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Edições Pirata – 40 anos depois, por Salete Rêgo Barros

Num período em que a produção intelectual e artística encontrava-se amordaçada, a busca por formas alternativas de driblar a censura era uma constante no meio artístico. Impulsionada por essa necessidade, surge, em 1979, a “Edições Pirata”, movimento cultural alternativo protegido pelos que sonhavam com a volta da liberdade de expressão. Outros movimentos de publicações alternativas existiam na época, porém, este foi o de maior relevância pela diversidade de atividades realizadas no período, e pelo fato de ter atingido a marca de 319 títulos publicados no Recife e Rio de Janeiro.

A minha ligação com os escritores independentes tem início 16 anos após o primeiro lançamento da “Pirata”, no dia 17 de agosto de 1979, quando comecei a editar e imprimir os livros de minha mãe, em casa, já que as publicações ficavam restritas às editoras comerciais, que detinham todos os direitos autorais com imposição de grandes edições.

Com tiragens objetivas a partir de 50 exemplares, surge a Novoestilo Edições do Autor, em 1995, inicialmente voltada às publicações dos membros da União Brasileira de Trovadores – UBT, que se reunia no Espaço Pasárgada sendo, com o passar do tempo, ampliada a sua atuação para outras entidades literárias. Como complemento da Novoestilo, em 2012, foi criada a Cultura Nordestina Letras & Artes, um local de acolhimento, trocas, oportunidades e realizações para o setor cultural e artístico, que hoje realiza, juntamente com a Brindeirarte, este projeto.

Durante o ano de 2016 realizamos, na Cultura Nordestina, o ciclo palestras “Recordando a Geração 65”, coordenado por Eugênia Menezes e Myriam Brindeiro, oportunidade na qual recebemos vários integrantes do movimento, em especial autores lançados pela “Edições Pirata”. Guardei da época, com carinho, o depoimento de Maria de Lourdes Hortas:

“Aportei na “Edições Pirata” em 1980, quando o movimento já contava quase um ano. Minha chegada expandiu a Pirata para outros estados, tornando o movimento alternativo pernambucano conhecido em todo o Brasil. Além dos livros que publicou, a Pirata editou o jornal alternativo Cultura e Tempo, que coordenei, e a revista Pirata Edições, de cujo conselho editorial fiz parte. Permaneci na Pirata até 1985, tendo publicado nesse ano, 2 livros meus: Relógio d´Água e Poetas portugueses contemporâneos. A minha passagem pela Pirata alargou meus horizontes e me fez conhecer outras intenções da literatura. Foi uma experiência que enriqueceu a minha escrita e a minha vida”.

Conhecer Myriam Brindeiro, Eugênia Menezes, Vernaide Wanderlei, Maria de Lourdes Hortas, José Luiz Mélo, Juareiz Correya e tantos outros escritores piratas, com quem tenho, hoje, o privilégio de conviver, significa fazer, também, parte desse movimento de resistência cultural, que traz a marca de bravos guerreiros pernambucanos, e que continua vivo e pulsante através de seus autores. Lembro, aqui, duas queridas amigas recentemente falecidas – Janice Japiassu e Maria Pereira de Albuquerque, umas das primeiras escritoras publicadas pela Novoestilo, defensoras incansáveis das produções independentes.

Aqui, na residência do casal Myriam e Alberto, local onde vários livros foram rodados em mimeógrafo e catalogados, madrugada a dentro, estamos reunidos para marcar o início das comemorações dos 40 anos da Edições Pirata, que deverá ser encerrado em agosto de 2020, passando pela XII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, em outubro próximo, entre outras comemorações.

Finalizando, agradeço ao poeta Juareiz Correya o convite para compor a equipe organizadora do projeto, fato que muito me gratifica não, apenas, pela oportunidade de poder celebrar uma data tão significativa para a literatura brasileira, mas de me fazer sentir como parte integrante dessa história, que vivenciei em meus maiores devaneios.

Lançamento do projeto Edições Pirata – 40 anos
Data: 17 de agosto de 2019
Local: Brindeirarte
Autoria: Eugênia Menezes, Juareiz Correya, Myriam Brindeiro e Salete Rêgo Barros
Realização: Brindeirarte e Cultura Nordestina

Conheça a história da Cultura Nordestina

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