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Carta de Ariadne Quintella a Monteiro Lobato

I COLETÂNEA CARTAS A MONTEIRO LOBATO

TALENTO DE MONTEIRO LOBATO COLOCADO EM PRIMEIRO PLANO

Cedo, aprendi a gostar de Monteiro Lobato e devo ao meu pai essa preferência – ele comprava para mim nas livrarias do Recife, como presente ofertado nas principais datas do ano – meu aniversário, encerramento do ano letivo com boa aprovação, Natal, Páscoa – um exemplar da coleção infantil do escritor paulista que, repito, não faltava nessas ocasiões… E tudo começou com “Serões de Dona Benta”. Eu estava com 9 anos e, graças ao meu interesse, devorava a leitura das páginas e ouvia as palavras do meu pai no intuito de orientar-me. Não posso e não devo esquecer que meu avô materno também costumava dar seu dinheiro trocado toda vez que eu pedia para comprar bombom. Na verdade, ia guardando as moedas no meu mealheiro de barro, sob a forma de um bichinho que eu entregava ao meu genitor que, após parti-lo, contava o dinheiro, juntando à quantia tirada do seu bolso para complementar o valor da compra.

Lembro-me que, um dia, meu pai revelou à minha mãe sua admiração por Lobato, durante conversa após o jantar, dizendo-lhe muito sobre quem fora esse escritor paulista que já falecera há alguns anos e que ele guardara um jornal de 1948 com fotografia do corpo do escritor dentro do caixão, mas que preferia não falar sobre isso comigo. Importante, segundo ele, era estimular na filha, por sinal, única, o gosto pela leitura da obra lobatiana tão cheia de vida e de encanto, enquanto eu criança e mais tarde depois de adulta, também teria muito o que ler e me distrair. Não é necessário dizer ou repetir: era visível a admiração do meu pai por Lobato.

Cada vez mais empolgada atravessei a infância e cheguei à adolescência com o mesmo prazer. E ainda hoje tenho vivo na memória o nome deste escritor que, mesmo após a mudança para o Rio de Janeiro, prosseguiu na carreira de escritor criando o “Sítio do Pica-pau Amarelo”, incentivando o gosto pelas apresentações feitas no seu tempo e, mesmo depois, as imagens de televisão e participação de atores mirins selecionados nos tempos modernos foram e continuam sendo do agrado popular.

Porém jamais poderemos esquecer e de transmitir aos nossos filhos ou alunos, quem foi José Bento Monteiro Lobato, nascido em Taubaté (São Paulo) no ano de 1882, considerado como gênio, graças ao seu pioneirismo na literatura infantojuvenil. Curioso é que por imposição do avô, ele se formou em Direito, mas, na verdade, seu talento era mesmo para as artes – pintura, fotografia e letras: o maior fruto de sua criação na “fazenda imaginária” foi o livro “Urupês”, de 1818, ainda hoje lido, reverenciado, aplaudido por aqueles que têm realmente sensibilidade para as letras, para a literatura. Jeca Tatu foi um personagem criado por ele e reverenciado por gerações, apesar de papudo, feio, molenga. Fazia parte, inclusive, da propaganda de remédios populares, por exemplo, os laxantes. Pena que ainda hoje se multipliquem no País personagens da vida real com essas mesmas características por ausência de um verdadeiro programa de saúde pública. Os jeca tatus são vários e com acréscimo apenas de mais um “dote”: são quase todos eles descerebrados. As vítimas contam, após a desgraça, de uma coisa muito importante e única, que é o carinho de mãe.

QUEM FOI LOBATO

Portador de grande diversidade em termos de criação e de talento, a genialidade de Lobato é reconhecida graças ao seu pioneirismo na literatura infantojuvenil. Personagens de publicações, a exemplo de Jeca Tatu, apesar de pertencerem à classificação de contos infantis, são reconhecidos como instrumento de combate à miséria, porém, apenas isso não foi o suficiente no passado e, do mesmo jeito, no presente, por falta de apoio governamental. E foi assim que fechou a Companhia Gráfico Editora Monteiro Lobato à falta de apoio governamental. Porém, celebrizar-se mesmo Lobato conseguiu ao dar prosseguimento à carreira de escritor criando o “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. E em 1920 lança “Narizinho Arrebitado”, leitura que foi adotada nas escolas. Obras como estas e outras como “Caçadas de Pedrinho” e “Os trabalhos de Hércules” foram traduzidas para diversos idiomas, a exemplo do francês, italiano, inglês, alemão, espanhol, japonês e árabe. Além de um diversificado universo de folclore, cultura popular e fantasia, essas obras estouraram nas vendas, foram mais de um milhão de exemplares vendidos, com um detalhe, porém – em 1926 houve eleição para a Academia Pernambucana de Letras, Lobato concorreu a uma vaga e não foi eleito.

Ainda hoje há preconceito contra aquele genial escritor que chegou a dizer nos tempo de Getúlio Vargas e a repetir com acerto: “O petróleo é nosso” – pagou caro por isso…

6 respostas

  1. Muito bom seu relato sobre Monteiro Lobato…você é uma escritora maravilhosa. Bjs.

  2. Muito bom Ari, vc salientar no texto o importante livro de Lobato, Urupês. Onde é referenciada a linguagem rural e surge o personagem Jeca Tatu. Caipira rude e doente, como tantos Brasil a fora. Por seu aspecto, desnutrido, Jeca tornou-se garoto propaganda do Biotônico Fontoura, fortificante que prometia robustez. Tomei na infância, seu gosto forte de alcóol, entorpecida. Acho que o sabor do Biotônico, me fez apreciar uns goles, vez em quando.

  3. Ah, Ariadne,
    Também aprendi muito cedo a amar a escrita desse grande Escritor contraditório e revolucionário chamado Monteiro Lobato.
    Amado por uns e odiado por outros a ponto de ser aprisionado como punição às suas ideias.
    Mas o maior feito desse escritor foi mostrar como funcionava a sociedade brasileira, a luta de classes e mostrar ainda a riqueza que essa Terra chamada Brasil possuía e a incapacidade da burguesia de ter um projeto para seu desenvolvimento. A nossa burguesia sempre teve o olhar e o interesse pra fora, para o estrangeiro e, como ainda hoje, nunca se reconheceu no índio, no negro, no pardo, enfim…no povo brasileiro. Esse miserável sentimento de exclusão foi herdado de seu passado escravocrata e o legado explorador e colonizador dos seus antepassados que aqui chegaram, não para se fixar, formar uma nação, um povo, mas para explorar e enviar a riqueza aqui produzida a sangue, suor e lágrimas para o estrangeiro.
    E a maior miséria do povo brasileiro é que ainda se mantém esse mesmo espírito de colonizado tanto nas elites como em grande parcela da população!!!
    Esperando que esse despertar que Lobato nos fez sejamos capazes de tirar os véus que encobrem a realidade e vejamos a o que, em união, resgatar e construir um Brasil para os brasileiros!!
    Abraço fraterno Ivanilde

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