Search
Close this search box.
Search
Close this search box.

Literatura e educação – Flávio Brayner

A tese de Nadir Skeete sobre Literatura e Formação (Letras-UFPE), orientada pelo meu querido amigo Oussama Naouar (atual Pró-Reitor de Extensão), se refere com frequência a um artigo que publiquei na “Revue Française de Pédagogie” (2001) em que comentava as idéias pedagógicas de Philippe Meirieu (Universidade de Lyon), então Vice-Ministro de Educação da França, e Jorge Larrosa (Universidade de Barcelona): o artigo tratava da relação entre Literatura e Educação. Em Meirieu eu criticava sua “pedagogização” da literatura (fazendo dela coadjuvante da formação); em Larrosa, critiquei a “literaturização” do pedagógico: a tentativa de promover uma estetização da existência (uma “salvação” pelo estético!). Meirieu danou-se comigo, mas não deu continuidade à trilogia que prometera sobre o assunto, e Larrosa me deu uma longa (e ótima!) resposta no seu livro “Educação e linguagem depois de Babel”.

Todorov achava que a forma mais eficaz de acabar com a Literatura era… didatizando-a, obrigando nossos alunos a fazer “fichas de leitura”, decorar estilos de época e suas obras respectivas, ler versões condensadas dos clássicos…, retirando dela aquilo que mais importa: o gozo estético, o prazer de ser conduzido “para fora”, de viver outras vidas, freqüentar outras épocas, contrair amizades imaginárias! Meirieu fazia aquilo que Todorov mais condenava: lia e resumia obras literárias – com suposto conteúdo “pedagógico”!- e as passava para seus alunos para que eles dali retirassem lições edificantes. Larrosa vai mais longe: como não conseguimos resolver nosso (mal) “estar-nomundo” nem pela política, nem pela religião, nem pelo “uso da razão” ou da ciência, e a Educação que nos prometia isso sucumbiu em linguagens emprestadas ou em clichês inconseqüentes, Larrosa espera que a “experiência” estética nos permita construir a
vida “como uma obra de arte”, tema caro às filosofias decadentistas do Mundo Antigo (Epicurismo, Hedonismo, Eudemonismo) em que, terminada a experiência da Cidade política, os filósofos se voltaram para a felicidade individual na tentativa de reunir Ética e Estética numa improvável “estetização da existência”: tornar-se o artista de si mesmo!

Penso que as linguagens “pastorais” da educação (“conscientização”, “libertação”, “denúncia-anúncio”, “caminhada”, “travessia”…) estão se esgotando, e talvez a Literatura possa nos ajudar em sua eventual reconstrução. Mas, antes, precisamos levantar uma questão: “A que tipo de pergunta a Literatura responde e por que só ela pode responder?”.

Flávio Brayner
é Professor da UFPE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *