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Cultura: a essência da nação – Salete Rêgo Barros

Entre muitas perguntas e poucas respostas, a quarentena 2020 vai se consolidando como um tempo de grandes perdas para o guardião da essência da nação brasileira – o setor cultural. Aquele que permite a cada um de nós sermos reconhecidos e nos reconhecermos como partes integrantes dos cantos e recantos de nossa terra, através do sotaque, dos costumes, das tradições juninas; da arte, do artesanato, do frevo, do bolo de rolo, da cartola, do cozido ou do acarajé, assim como das festas pagãs e religiosas.

As perdas do setor são financeiras, decorrentes do fechamento de equipamentos culturais, e de vidas que se foram levando embora o potencial criativo de dona Neném da Portela, de Rubem Fonseca, Flávio Migliaccio, Morais Moreira, Daisy Lucide entre outros. Ontem, a poesia da musa da Geração 65, em Pernambuco, Tereza Tenório, também nos deixou.

No início de maio, Aldir Blanc, autor de mais de 600 letras de música, entre elas o clássico O bêbado e o equilibrista, consagrada na voz de Elis Regina, faleceu em consequência da Covid-19 aos 73 anos, dos quais, 50 dedicados à cultura.

A Cinemateca, localizada em São Paulo, vê o seu acervo ameaçado pelo corte de verbas para a manutenção do prédio que abriga a história do cinema nacional.

Os guardiões das tradições culturais dos povos das matas estão morrendo em consequência da pandemia (voltando pra casa, como eles dizem) sem direito ao ritual funerário de importância fundamental para a cultura indígena.

Pontões e pontos de cultura, casas de espetáculo e circos, sebos e livrarias espalhados pelo Brasil, fecham suas portas deixando mais de 5 milhões de pessoas sem emprego e oportunidades de geração de renda – do pipoqueiro ao produtor cultural; do artista à rede de hotelaria; do artesão às empresas de transporte viário e aéreo.

Atendendo aos apelos do setor, a deputada Benedita da Silva juntamente com mais 23 deputados federais, e a relatora Jandira Feghali, apresentaram o PL 1075/2020 (Lei Aldir Blanc), que prevê o repasse de 3 milhões de reais ao setor cultural durante a pandemia e propõe a destinação de recursos do Fundo Nacional de Cultura para espaços culturais, teatros independentes, circos itinerantes, Pontos de Cultura etc. O projeto de lei foi aprovado por unanimidade na Câmara e no Senado, e agora aguarda a sanção da presidência da República nos próximos dias, sem vetos, é o que se espera.

A maioria concorda que aglomerações são totalmente inadequadas ao combate à pandemia, mas há os que incentivam os cultos religiosos, totalmente dispensáveis quando colocamos a vida como prioridade absoluta. Além disso, a interação com a transcendência independe de local e companhia – o papa Francisco deu o exemplo ao orar, sozinho, na Praça de São Pedro totalmente deserta.

Muitos não veem a arte e a cultura como essenciais, apesar de sua presença em nossas vidas, das formas mais variadas, muitas vezes até, passando despercebidas no design de uma embalagem, numa toalha de renascença, num quadro na parede, num arranjo floral, numa fotografia, num filme na TV, numa música; no pôr ou no nascer do Sol, apreciado por uma fresta da janela; através da arte que nos chega pelos meios de comunicação ou pela disponibilidade de artistas que se propõem a fazer apresentações nas varandas de seus apartamentos, vivenciamos a arte e a cultura continuadamente. Portanto, arte é vida e a cultura é a essência da nação.

Salete Rêgo Barros

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