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Uma vida entre sonetos e contos, por Zélia Monte

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DESTAQUE LITERÁRIO DE JULHO – DJANIRA SILVA

 

Como diz Milton Nascimento: “Amigo é coisa pra se guardar/ do lado esquerdo do peito…”

Imaginem quando, além de amiga, a pessoa de quem eu falo é mentora minha e de muita gente?

Djanira veio direto de Ororubá para o mundo, cumprir o papel que lhe foi traçado.

Criança esperta, olhos curiosos, espiava o mundo através do Tesouro da Juventude.

Aprendeu cedo a decifrar enigmas do mundo inanimado. Entender e encarar sentimentos conforme a situação.

Diz-se, quando jovem, namoradeira, feliz e falada.

Casou. Teve quatro filhos.

Viúva, pintou o sete e bordou o oito, trabalhando. Conta-nos com graça as peripécias vividas. Foi cabeleireira, costureira e outros “eiras”, enquanto esperava sair a pensão a que tinha direito.

Concursada, trabalhou como secretária do escritor Mário Motta. Incentivada por ele, começou a escrever. A veia da escritora foi ativada. Muitos prêmios foram ganhos.

Com seus textos alegres e pitorescos damos boas risadas e, quando o seu lado triste aflora, nos faz refletir.

E viva Djan, sonetista maior. Um vulcão a expelir metáforas, rimas e tristeza em poemas onde se desnuda magistralmente.

Plantei saudade, lírios e verbena

Cravos, cravinas, rosas e bogaris

Ouvi cantar alegres bem-te-vis

Nos canteiros floridos de açucenas…

Passeia com competência também na prosa. Revela o lado amargo do seu Eu, no tocante livro A Morte Cega.

Exterioriza nos contos a sátira, a perspicácia e o humor.

Do livro Conto não Conto destaco o texto O Porta-chapéus.

Ele, o Porta-chapéus, protagonista inanimado, torna-se vivo pela imaginação da narradora.

Ao segurar personagens, como o chapéu e a bengala, estes se tornam mensageiros de boas e más notícias.

Dependendo do chapéu pendurado, o comportamento da narradora muda psicologicamente. Finge bom comportamento, pode ser ela mesma, verdadeira, ou ficar triste.

O protagonista do conto possui outros atrativos: o espelho de cristal, que “ilumina a sala” e “onde as pessoas se conferiam quando entravam” e “a criança podia ver a alegria do sorriso furado dos seus sete anos.”

Nestas linhas metafóricas confirmo sua especialidade. Até o final do conto a narradora interage com o protagonista.

Edgar Allan Poe, no século passado, já dizia: Temos necessidade de uma literatura curta, concentrada, penetrante, concisa, ao invés de extensa, verbosa, pormenorizada. É um sinal dos tempos.

Para nosso regalo, o que Poe ensinou é encontrado no conto leve e encantador que evoca reminiscências da autora ou apenas imaginação.

Quem há de saber?

 

https://www.culturanordestina.com.br

Uma resposta

  1. Zélia Monte retrata com fidelidade a escrita de Djanira Silva – um estilo inconfundível, que pode ser identificado sem precisar de assinatura.

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