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O festejo santo, por Fátima Brasileiro

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A festa junina é especial e tem um quê de divino. Afinal, a fogueira acesa para comunicar o nascimento de João, foi o sinal combinado entre Isabel e Maria, quando esta voltou para casa, após três meses ajudando a prima de idade avançada, surpreendida pela gestação.

A criança viria a ser o profeta João Batista, filho de Zacarias e Isabel; e Maria, a Virgem de Nazaré, escolhida por Deus para conceber Jesus Cristo, o filho que levava no ventre. Com uma origem dessa, natural que a festa seja abençoada.

Diferente dos Natais, onde o tempo vai fazendo rarear nossos queridos na mesa da ceia, a noite de 23 de junho é tão colorida e alegre que não admite nostalgia.

As músicas são de uma singeleza comovente. Não dá para esquecer o som da sanfona, da zabumba e do triângulo, marcando os passos da quadrilha. Uma emoção de enrubescer, ao cruzar com o cavalheiro preferido! Por razões que só a professora entendia, o eleito fazia par com outra dama; feia e desajeitada, claro. Tem nada não, é só aqui na quadrilha.

Pra que fogueira pra que balão?

Se a vida inteira é uma fogueira o meu coração

Pra que fogueira pra me queimar muito mais

Estou amando coração penando e eu não tenho paz

        O colorido das bandeiras e das roupas, o crepitar das brasas da fogueira, o cheiro de terra molhada, do milho assado, da pólvora dos fogos barulhentos, tudo remete ao jeito simples de ser feliz.

Encantadora a beleza iluminada dos balões, subindo cada vez mais alto, carregados de desejos; que me perdoem os ambientalistas, a sensação é única e inesquecível.

Balão subiu levou bilhete meu

Mas lá no Céu São João não leu nem viu

Tinha pedido tanta coisa boa

Mais é que agora meu balão caiu

As comidas são um capítulo à parte. Uma pamonha quentinha com queijo de coalho assado na brasa e uma xícara de café, não tem dinheiro que pague. A canjica mexida pela minha mãe, três horas de fogo, seguida da disputa para raspar o caldeirão, eita que saudade boa. No dia seguinte era ainda mais gostosa, e eu já acordava na intenção de correr para a travessa de louça. A canela era outra vez polvilhada – parte tinha ficado no pano de prato que a cobrira na noite anterior.

Em outros tempos, a castanha do pé-de-moleque era assada em casa, a massa de mandioca lavada no dia, e os bolos, feitos com ovos das galinhas criadas no quintal. Os sabores frescos dos ingredientes se misturam às memórias afetivas da época da inocência, parecendo insinuar que nada é bom como antes. Não me permito essa interpretação; cada época tem seu encanto, seus personagens e sua duração.

O privilégio de guardar lembranças tão queridas, algumas felizes e outras nem tanto, é mais um motivo para agradecer as oportunidades que a vida oferece. Com o coração penando, e apesar do balão caído, vale festejar. Ano que vem soltamos outros balões e, no colorido alvoroçado do terreiro, quem sabe um olhar volte a incendiar nosso coração?

Viva São João do Carneirinho!

 

https://www.culturanordestina.com.br

21 respostas

  1. Parabéns pela escrita e pela homenagem a uma festa tão alegre e nordestina, como o São João, que bem sei ser a sua preferida!

    1. Muito lindo minha escritora predileta, vá em frente são lembranças que não podem ser apagadas. Quero mais

        1. Lindo texto, Fátima! Parabéns! Adorei a lembrança da origem divina dos festejos. Não lhe falta inspiração para escrever.
          A panela da canjica ainda é motivo de festa aqui em casa.
          Um abraço!

  2. Rá rá rá ! Você tem razão: só a professora pra explicar a razão de o menino que a gente mais achava garboso dançava com a menina mais desajeitada da sala. Afff! quá quá quá quá quá! Óbvio que deveria dançar comigo. Tem nada não!

    Fátima, seu texto me levou até Barra de Santa Risa(PB) e ao colégio onde estudei tida a vida.

    Viva São João! Viva!

  3. Parabéns pela escrita, e obrigada por nos presentear com mais uma coletânea.
    Está simplesmente maravilhosas!

  4. Fátima, seu texto transportou-me às melhores lembranças do meu São João em Caruaru… Alegre, bem vivido, com cheiro de comida de milho. As raspas da panela da canjica, são recheadas de uma saudade que não tem tamanho!
    Obrigada minha amiga por tão grande emoção!

  5. Sempre singela e genuína em suas palavras viajamos, amiga!
    Me faz um favor, continua escrevendo, sempre!
    Beijao

    1. “Estou amando coração penando e eu não tenho paz.” Simplesmente, lindo!
      ” o colorido das bandeiras e das roupas, …, tudo remete ao jeito simples de ser feliz.” O pensamento voa até àquelas recordações que ficaram lá atrás.
      Parabéns mais uma vez, Fátima.
      Sempre nos brindando com lembranças tão caras.
      “Viva São João do Carneirinho!”

  6. “A fogueira ta queimando em
    Homenagem a são joão.
    O forró já começou vamo gente
    Rapá pé nesse salão”

  7. Parabéns pelo texto, prima!
    Vc lembrou de cada detalhe dessa festa maravilhosa, que é o nosso São João.
    ” Viva São João “

  8. Parabéns amiga querida! Texto maravilhoso que me reportou para tempos de muito boas lembranças. Continue escrevendo! Nos faz muito bem!
    Forte abraço!

  9. Olá Fátima, belo texto.
    Sacode as lembranças caídas
    sobre a toalha do tempo.
    Recordo o pedido ordem de mamãe,
    às tardes, após rodada de café torrado e pilado em casa e pão francês fresco para oito filhos sentados à mesa: limpem a sujeira. Engolíamos para levantar antes e deixar a tarefa para o retardatário.
    Parabéns, amiga.

    1. Fátima, parabéns por relatar tão bem. Voltei ao tempo do interior. Com a mesa farta, vi até as travessas de mamãe sobre a mesa. Quando você citou a canjica. Louça inglesa, nem sabia que era chique kkk. Só olhava para as comidas. E a decoração. Lá em Pesqueira, naquele espaço enorme, cheio de bandeiras coloridas. Mamãe só deixava tirar quando o trem passava. De passageiros, é claro. Você vai longe, escritora!

  10. Parabéns. Fátima! Belíssimo texto ressaltando a a tradicional festa Nordestina, então na parte que você. escreveu sobre fazer a canjica me levou de volta a minha adolescência,como era bom naquela época.Bjsss amiga

  11. Parabéns Fátima, você não deixou de homenagear o São João mesmo na pandemia. Viva São João do nordeste.!!!!

  12. Parabéns D. Fátima pelo texto!! Uma festa muito bonita o São João e muito bem prestigiada nas suas palavras. Apesar de momentos tão difíceis que estamos atravessando por causa da pandemia não devemos perder o encanto , a verdadeira essência do São João. Através da leitura vamos manter sempre acessa a fogueira em nossos corações.
    Um grande Abraço. Erica Barbosa de Souza

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