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Carta de Leny Amorim a Monteiro Lobato

Meu caro Monteiro Lobato,

Cento e trinta e sete anos passaram… você continua PRESENTE. Conheci você na minha infância. Meu pai nos reunia e lia para nós: Reinações de Narizinho, Saci Pererê, As Aventuras do Jeca Tatuzinho, obrigando-nos a tomar o Biotônico Fontoura… No começo, estranho, meio amargo, mas depois… tão gostoso! É bom lembrar e agradecer a sua luta em benefício da literatura infantil. Sua liderança começou cedo: no Arcádia, Sociedade Literária Secundarista (1901), grupo Cenáculo (1902), que se reunia em Belenzinho. A criação do jornal Minarete, SP (1903), seus escritos para A Tribuna (1908), aí, já casado com Purezinha.

Lobato, como esquecer o nascimento do Jeca Tatu, personagem símbolo da sua obra (1914), o lançamento do seu primeiro livro (1917), O Saci Pererê (resultado de um inquérito)? Você sempre foi muito ardiloso: em 1918, no Estado de São Paulo, iniciou uma série de artigos sobre Saúde Pública. Os lançamentos se sucederam: Cidades Mortas, Ideias do Jeca Tatu (1919), Negrinha e A Menina do Narizinho Arrebitado (1920); Fábulas de Narizinho (1921), O Macaco se fez Homem, O Mundo da Lua, e uma coletânea de Contos é lançada na Espanha (1923). Você sempre foi inquieto e desbravador. Vejam só! Lembra o dia em que Rui Barbosa fez longa referência a Jeca Tatu, e à 3ª edição de Urupês (1919)? Lembra? Rapaz… que sorte a sua. Foi logo esgotado. E, para completar, Urupês é editado na Argentina, junto com as Fábulas de Narizinho, o Saci e o Marquês de Rabicó.

1920, agora: Lobato Editor com o objetivo de multiplicar as ideias ao infinito. E não ficou só nisso: contratou artistas, importou máquinas modernas, empenhando-se na escolha dos títulos. Você se transformou no maior e mais ousado editor do país. Em 1924 instalou o maior Parque Gráfico da América Latina. Em 1925, o Laboratório Fontoura usa o Jeca Tatuzinho na promoção do Biotônico.

Lembra?! Você foi o primeiro cara que investiu na mala direta. Os lançamentos eram notórios: As Aventuras de Hans Staden (1927), O Noivado de Narizinho, O Gato Felix, Aventuras do Príncipe e O Cara da Coruja (1928), e tantos, tantos outros.

Em 1931 você volta da América e resolve mexer em vespeiro: encaminha ao Presidente Vargas um memorial sobre o problema Siderúrgico Brasileiro. Começa a se envolver na Política (em um regime de ditadura), usando frases: “o meio de combater uma ideia, é lançar ao seu encontro uma ideia melhor… nunca no mundo uma bala matou uma ideia”.
Eleito para a Academia Paulista de Letras, em 03 de fevereiro de 1936, lança, em agosto, O Escândalo do Petróleo. Cinco edições esgotadas no mesmo ano. Não satisfeito, em 31 de março de 1938, numa carta, conclama o Presidente Vargas à defesa da Soberania Brasileira, na questão do petróleo, e graves denúncias ao Departamento Nacional de Produção Mineral.

22 de janeiro de 1939, em Lobato, subúrbio de Salvador, BA, o petróleo é descoberto oficialmente no Brasil. Em 24 de maio de 1940, denuncia e acusa a Companhia Nacional do Petróleo (CNP), “por perpetuar a nossa situação de colônia americana dos trustes internacionais”. Abre-se o inquérito (6/1/1944), a pedido do general Horta Barbosa, contra o escritor, que é preso em 27 de janeiro, e solto após 4 dias preocupantes para todos nós.

Em 1943 vai ao ar, no mês de maio, pela Rádio Gazeta de SP, o programa No Sítio do Picapau Amarelo, adaptação de Edgard Cavalheira e Carlos Lacerda.

Em 1946, obras editadas pela Brasiliense (13 volumes), que torna-se seu sócio em fevereiro do mesmo ano. Em 8 de junho embarcou para Buenos Aires, onde fixa residência. Funda a Editora Acteon e lança Las 12 Hazañas de Hercule. Em 1947 a Editorial lança Zé Brasil e, com pseudônimo, você lançou La Nueva Argentina. A saudade bateu forte. Em 8 de maio você volta ao Brasil, assistindo em Salvador, BA, a opereta Narizinho Arrebitado, com música de Adroaldo Ribeiro da Costa.

No ano seguinte, 1948, publica os folhetos: De quem é o Petróleo da Bahia? e Georgismo e Comunismo. Em 2 de julho realiza sua última entrevista na Rádio Record. Faleceu de um derrame, deixando essa saudade que nos leva a escrever esta carta in memoriam aos contemporâneos, registrando as marcas e a história do grande brasileiro. É para você – LOBATO – essa missiva, lembrando aos demais a sua singeleza e firmeza no fazer SER. Por tudo isso, LOBATO, a razão dessa carta é a nossa saudade.

Leny Amorim

P.S: “UM PAÍS SE FAZ COM HOMENS E LIVROS”.

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2 respostas

  1. Boa tarde Leni
    Parabéns pelo texto. Escrevi também para ele, coisas bem do coração.
    Que nossas lembranças, cada uma do seu jeito, o deixem feliz.

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