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Carta de Eugênia Menezes a Monteiro Lobato

COLETÂNEA DE MEMÓRIAS CARTAS A MONTEIRO LOBATO

Sr. Monteiro Lobato, minhas afetivas saudações

Peço licença para abraçá-lo com a maior alegria que cabe em meu coração. Toda a minha infância foi povoada por seus livros especiais, aos quais dediquei muitas horas.

Sou de Taperoá, município paraibano onde morava grande parte de nossa família. Meu pai era comerciante e todas as sextas-feiras ia à Campina Grande fazer compras para abastecer suas lojas. De lá, trazia para mim revistas infantis, que me deliciavam. Em setembro, mês do meu aniversário, trouxe-me… adivinhe! A sua coleção para meu deleite.

Nesta noite não dormi, de tanta agitação. De manhã, cercada por tantas maravilhas conversei com meu irmão, nove anos mais velho: eu, uma menina só, com tantas revistas e livros. “Tem muito menino aqui que não tem nada” (chorei). Meu irmão aproximou-se de mim carinhosamente, e disse: “Aqui, do lado de nossa casa, tem dois quartos, um destinado ao fabrico do queijo e o outro para passar roupa. Podemos pedir a Mamãe um espaço para fazermos uma biblioteca, e nós dois vamos estabelecer as regras de uso para as crianças” (chorei de novo).

Aos sábados, dia em que as famílias dos sítios vinham para a cidade fazer feira, os meninos (poucos, no princípio) chegavam acanhados. Faziam fila na janela do antigo quarto de passar roupa, olhando para tudo. Dois ou três meses depois, eram donos do pedaço e tiravam dúvidas sobre as histórias, riam, uma alegria total.

Meu pai me deu uma peça de ferro com quatro gavetas enormes, onde nós ensinávamos aos meninos como colecionar nossa riqueza e como encontrá-la.

Fiquei lá até os onze anos, quando saí para estudar, mas voltava das férias. Encontrar os parceiros sempre foi uma grande alegria, proporcionada por suas histórias que nos tocavam o coração. Um dia vi uma pessoa entrar na farmácia e achei que a conhecia. Fui lá e reconheci um dos nossos leitores. Conversamos muito, demos boas risadas com as lembranças da infância. Terminamos namorando.

Hoje, pertenço a uma instituição chamada Cultura Nordestina Letras & Artes, onde, entre inúmeras atividades, temos contação de histórias para crianças, e nos dias dedicados às maravilhas dos seus textos, eu sou… Dona Benta!!!
Obrigada por tanta competência e sensibilidade que nos trouxeram alegria e belas formas de encarar a vida.

Carinhosamente, Eugênia Menezes

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4 respostas

  1. Que relato emocionante, Taperoá me lembra Ariano….. “não sei, só sei que foi assim!”
    Muito interessante. Parabéns!

  2. Parabéns Eugenia Meneses!!!
    Seu texto é o espelho que reflete a alma do escritor Monteiro Lobato.
    Abraço afetuoso de Suzana Cavalcanti.

  3. Eugênia, boa tarde
    A criação da Biblioteca foi genial!
    Do jeito que você conta a gente chega a sentir o cheiro do local e ver as carinhas acanhadas dos meninos do sítio. Assim eram chamados, não é?
    Parabéns pelo texto e mais ainda pela função de Bibliotecária. Com certeza esse seu gesto está gravado em muitos corações. Abraço

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