BRASIL: o passageiro e o que fica; o do encantamento e o da realidade; o real e o ideal, por Érico Iglésias

Copa do mundo – o país colorido, vibrante, otimista, patriótico. Após a sagração, o retorno à realidade: comércio de drogas, desemprego, noticiário repleto de más notícias, doenças, fome, corrupção desenfreada, injustiça – é bom parar por aqui, senão vira morbidez.
Qual a causa de tudo isso?
A República foi proclamada no Brasil, inspirada pelos ideais positivistas, cujo lema é: amor por princípio; ordem por base; progresso por fim. Até Noel Rosa cantou esse lema em “Positivismo”:

O amor vem por princípio, a ordem por base
O progresso é que deve vir por fim
Desprezaste esta lei de Augusto Comte
E foste ser feliz longe de mim.

A moça cantada por Noel Rosa é o Brasil que eu, infelizmente, canto agora. Desprezamos o princípio – o cuidado, o amor, a educação – e nos iludimos pensando que, sem ele, a ordem e o progresso serão suficientes. São? A ordem, hoje, é a que não prende e até solta os criminosos; o progresso é o consumo exagerado de remédios, comidas de má qualidade, agrotóxicos etc.; a educação é o cuidado inexistente, que só existe no papel e na propaganda.
Senhoras e senhores, precisamos acrescentar amor à nossa bandeira – AMOR, ORDEM E PROGRESSO.
Aqueles países que cuidaram, podem ter perdido a copa deste ano, mas continuam ricos, felizes, pujantes. Se nós ganharmos, é bom lembrar: alegria de pobre dura pouco. Continuaremos pobres, carentes, enganados e enganadores, sem respeito pelos que morrem nas calçadas dos hospitais públicos, convivendo com o desperdício de obras paradas ou superfaturadas, carentes de saúde e, principalmente, de educação.

Acorda, meu povo! Vamos ao bom combate!

Érico Iglésias é engenheiro e professor da Rede Pública Estadual

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