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Triunfo (PE), por Wanessa Campos (jornalista e escritora)

Cineteatro Guarany*

 

Mas que prédio lindo! Exclama quem chega a Triunfo pela primeira vez. Verdade. Ele se destaca pela imponência e estilo, na Praça Carolino Campos. O prédio foi construído nos anos 20, época em que predominava a arquitetura neoclássica com grande influência na construção civil do Brasil. “Mas esse cineteatro se enquadra numa arquitetura eclética”, classifica o professor José Luiz da Mota Menezes, arquiteto especialista no assunto.

De passagem pelo Recife, o comerciante Carolino levou sua ideia a um conhecido engenheiro. De posse da planta voltou  a Triunfo, reuniu alguns pedreiros explicando do que se tratava, e deu início ao sonhado projeto. Com recursos próprios os primos Carolino de Arruda Campos e Manoel de Siqueira Campos deram início à construção com mão-de-obra local, numa tentativa de evitar o êxodo urbano, alternativa encontrada pelo sertanejo para fugir da seca. E a de 1919 foi uma das piores.

Ao lado do Lago João Barbosa, o cineteatro Guarany passou a ser o cartão postal da cidade que oferece aos turistas e moradores, clima frio e aconchegante, além de belezas naturais. A inauguração aconteceu em 1922, após três anos do início de sua construção (1919-1922).

Seus portões se abriram na noite de 17 de fevereiro para os triunfenses assistirem à peça Otelo, de William Shakespeare, com elenco local. Mas há quem sustente que foi o filme “Cenas Mudas”, uma vez que o sonoro não havia ainda chegado por aqui. Divergências à parte, o fato é que o Guarany, como é chamado pelos triunfenses, marcou época.

O cineteatro passou a ser um lugar de grandes festas de formatura, bailes, eventos e, claro, cinema. Seu nome tem origem na Ópera Guarany, de Carlos Gomes, o grande sucesso da época que Carolino tanto admirava.

Afetado por uma inesperada crise política e econômica no País, o espaço cultural se viu obrigado a realizar outros tipos de atividades, a exemplo de boates e até restaurante. O resultado foi um período de decadência. Carolino Campos resolveu vender o prédio para a Província Franciscana da Ordem do Brasil. O local voltou a funcionar como cineteatro, mas não durou muito. Tanto que, suas atividades foram encerradas em 1985. O prédio passou por vários donos, bem como por transformações, até que acabou no esquecimento.

Três anos depois (1988), o então prefeito José Rodrigues pediu o seu tombamento, tendo sido concedido pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE.

Tombado (Processo 3358/94) em nível estadual (18/07/1988 –Conselho Estadual de Cultura), o Guarany entra na sua primeira fase de restauração: a lenta reforma iniciada em 1994, que se arrastou até 2002, passando por vários governos e prefeitos. Coube à FUNDARPE elaborar o projeto tentando ser o mais fiel possível ao original na parte interna (o que não aconteceu). Foi, sobretudo, uma reforma histórica. As cores externas voltaram às originais: paredes amarelas, portas e janelas marrons. Foram investidos R$ 832 mil reais durante todo esse tempo. Entregue a Triunfo totalmente reformado e restaurado, o cineteatro Guarany ficou sob a direção da Prefeitura municipal até 2008 e, no ano seguinte, a FUNDARPE assumiu até a presente data.

Atualmente, o majestoso prédio mantém sessões de cinema e peças de teatro. Nos meses de julho e agosto centraliza os Festivais de Cinema e de Inverno, atraindo artistas, turistas, intelectuais e curiosos.

O Cineteatro Guarany  é, atualmente, uma joia arquitetônica e patrimônio de Triunfo pela sua beleza e história – uma das grandes atrações turísticas do Sertão. E não foi à toa que ele esteve recentemente entre os finalistas das sete maravilhas do Estado. E assim, ele permanece aqui, absoluto, a testemunhar os acontecimentos da cidade.

 

*Wanessa Campos, natural de Triunfo-PE, é jornalista e autora do livro “A dona de Lampião.

http://mulheresdocangaco.com.br

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Uma resposta

  1. Morei 04 anos em Triunfo, quando criança. O prédio é mesmo lindo. À época, contavam que numa sessão de cinema décadas antes, um homem puxou a arma quando John Wayne atirava e meteu bala na tela do cinema! 😅😅😅 Verdade ou não, havia um buraco na tela (de fato o cine-teatro estava fechado naqueles anos 80). O texto de Wanessa me fez voltar no tempo… ❤️

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