Mell Pury

 Já senti mais fome, mais sede…

Bicho sou, da terra, mãe Gaia.

Racional? Quase sempre mais emocional.

Há momentos que nem imagino para que lado vou. Será que é para saber, ou somente sentir e me deixar ir no fluxo do Universo, dos meus ancestrais, que seguramente me guiam, confortam, puxam as minhas orelhas, me orientam, me sacodem, me parabenizam até mesmo quando eu não os escuto ou entendo?

Pacientemente não saberia expressar mas, sim, sei, eles não desistem de mim.

Em algumas circunstâncias, muitas delas em que ela, a minha intuição, chega forte, tão forte que não distingo.

Duvido? Nem é bem assim…é que em determinados momentos fico à deriva, exatamente no racional e aí vacilo, fico na corda bamba, me desequilibro… sabem bambu?

Acordo e me dou conta de que somos o coletivo, isso se funde em mim, me perco…

Me reencontro com meus propósitos, me realinho comigo mesma, retomo o caminhar às vezes árduo, suave, turbulento, turborápido… (risos), é mesmo assim.

Me encontro até numa diagonal, de cabeça para baixo, e é, na maioria das vezes, onde adquiro mais créditos vitais. Claro que me custa abrir os olhos para enxergar o que de tão merecido me espera, ali do meu ladinho. Ela, a semente que por sua vez é sempre plantada por mim com dedicação, tem mais qualidades que tamanho, por vezes.

Suculenta, ao ponto de minar em sua metamorfose crescente, o néctar.

Ao ponto de me surpreender comigo mesma com tal fruto, ali ao meu alcance inteirinha pra mim, ao meu belo prazer de desfrute de um novo ciclo que venho aproveitando para saborear as novidades que vêm dar à praia e, claro, repartindo com o outro quando gostam de tal sabor e também seja merecedor.

Às vésperas de mais de 20 anos no total, fora de casa (ainda aqui na terra), digo do Brasil, que venero e me orgulho em me ter gerado e posso dizer lançado pra fora nesse mundão em prol de um aprendizado, de conhecimento e trocas de culturas, hábitos totalmente diferentes, me sinto plena, grandiosa em minha evolução diária comigo mesma e sim com o outro, como animal que sou, emocional.

Poderia passar aqui horas e horas, meses e meses, anos à fora relatando tais fatos, aprendizados mil, que é essa minha viagem ao TEMPO, dentro de um TEMPO, que é um senhor bonito com cara de meus filhos…

Interna e externamente acredito me fazer expressar ao ponto de quem já passou, esteja no meu caminho ou seja próximo disso, tenha aqui não vou dizer muita clareza, e sim um toque de entendimento de quem lhes escreve, sem vergonhas ou pudores de se expor.

Claro que em tão poucas linhas nem pensar numa terça metade do que posso eu estar me referindo mas, sim “Já tive com mais fome, mais sede”.

Sinto que mesmo nos momentos que estamos vivenciando, eu particularmente sigo com o projeto de cada vez mais conhecer-me melhor, porque somente assim poderei seguir distribuindo e plantando outras mais sementes que venham a dar frutos, bons frutos, com o néctar em que cada um, cada dois, cada mil possa desfrutar com intensidade igual ou melhor… cada um na sua, mas pode ser na minha também.

Quem sabe sem resistir, assumo que essa é a minha “fome sedenta”?

Mell Pury

do Rio de Janeiro, Brasil, de descendência indígena, etnia Puri, Cantautora, Fitoterapeuta, Percussionista, Poetisa, Locutora.

Confecciono cosméticas e remédios com ervas, sementes e raízes biológicas. Fabrico instrumentos percussivos com material natural. Comecei nas escritas em antologias em 2019, exatamente por um chamado dela, Ivanilde Morais de Gusmão, na Coletânea *Tempo Partido*.