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Bernadete Bruto

foto bernadete bruto

Da fome que me assola o peito

 

Sinto fome daquela justiça

Direta, Concreta

Para todos os seres

Que seja bem natural

Nada de sistema processual

Sustentáculo de benesses legalizadas

Legisladas em causa própria.

 

Sinto fome de novos conceitos

Preceitos atuais para a mais valia

Pois mais valem os que fazem jus

A verdadeira justiça

Uma desinteressada mente

Autuando para o bem alheio

Dos que se valem dos desvalidos

De forma exclusivista

Acobertados por belas causas

Pano de fundo egocentrista.

 

É de teor altruísta a fome que me assola o peito

A busca por atos de fato no silencioso agora.

 

Sonhos para uma escrita lúcida

Despertou de repente sentindo um desgostoso espanto.  Como se aborrecia quando baixava aquele download apocalíptico. Õ mudinho pequeno de ações e reações pré-escritas! Desabafa consigo desmanchando sua máscara sorridente. Sente aquela fome de justiça que revira seu estômago fazendo bolhinhas. Como paliativo, pega o teclado e descreve a presciência da pseudoescritora.

Detestava embarcar naquele furacão dos emaranhados alheios! Todavia estava no barco (que nem pediu para entrar) então conforma-se segurando o leme dirigindo-se ao olho do furação que tudo vê. No convés consulta a bola mágica  que,  tal como a lua clara no céu, aponta o script da vida cotidiana. Queria assistir até onde ia chegar aquela composição entre parêntesis, vírgulas e pontos de todos os sentidos.  Prossegue contemplando o buraco negro no fundo de cada ser que sofre injustamente. Observa as reviravoltas da vida, como na canção do Chico Buarque, onde  tudo vai rodando: O mundo,  roda gigante, moinho, pião e o coração! Assiste todos os envolvidos sendo jogados pelo vendaval. Um a um sendo arremessados, no tabuleiro de xadrez, o preto no branco ou isso ou aquilo, bem antes do xeque-mate. As peças vão se organizando: o Bispo, todo paramentado; o rei e com sua coroa reluzente de joias roubadas; a torre pronta para os aprisionamentos  e o peão na frente do jogo, o primeiro a ser derrubado. Tudo está lá. Cada qual no seu quadrado, bem demarcado. Um a um, o preto e o branco,  isso ou aquilo…tudo que nos ensinaram com sotaque europeu..

Perante o falso ecossistema respira. Fecha os olhos e sonha formoso, repleto de sons e palavras boas, como nossos antepassados originários ainda hoje nos ensinam. Recorda que a terra transpira amor todos os dias. Reescreve os ciclos. Pura meditação e sintonia! Avista aquele tabuleiro sendo tomado pelas heras, incorporado à existência.  De lá, encontra uma protagonista! É uma rainha negra! Ela monta no cavalo branco e salta do mundo dicotômico em direção a uma nova ordem. E este é apenas o princípio de boas histórias que, um dia, pode escrever.

 Recife, 6 de agosto de 2023

 


Bernadete Bruto 

é Poeta Performática. Tem sete Livros publicados: Pura Impressão (2008), Um Coração de Canta (2011), Querido Diário Peregrino (2014), A menina e a árvore – The girl and the tree (2017), Sessenta e um poemas para uma vida (2019), Em nome de Rosa: uma quase ficção (2021) e o HQ Sombria (2022). É parceira do Canal Arte Agora e da Cultura Nordestina Letras & Artes, e integrante do Confraria das Artes. Participou de diversas antologias, assim como produz, organiza e encena várias apresentações poéticas e performáticas exibidas em eventos culturais e literários. Também produz e roteiriza pequenos vídeos. Além disso, é produtora do Podcast Salve Palavra no Spotify e coordena o programa online Palco Iluminado inserido na programação do Canal Arte Agora no YouTube. Ambos tratam de divulgação da literatura contemporânea.

 

2 respostas

  1. Obrigada pela viagem nos ¨Sonhos para uma escrita lúcida¨.
    O Peão é sempre derrubado, mas levanta!
    E nas voltas do mundo, vai chegar o dia da queda dos paramentos do Bispo e da apreensão, na Torre da justiça, da coroa reluzente de jóias roubadas.
    Que a verdade e a justiça prevaleçam.

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