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Tudo começou na Serra, por Eugênia Menezes

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Estou falando daquela Serra que nós víamos da janela da cozinha, onde toda manhã escovávamos os dentes. Perguntei para meu pai quem morava lá. – Bichos, cangaceiros, pássaros… – E as almas do outro mundo? – Também, disse ele.

Folheando um número da revista O Cruzeiro, encontrei uma foto de Luiz Gonzaga com chapéu de cangaceiro. Será que ele é? – Nada, é moda. Ele acha bonitas as estrelas, os entrelaçados, os apetrechos do peito, disse meu pai. A partir daí, começou minha profunda relação com Luiz Gonzaga, que teve importância fundamental na construção de minha identidade sertaneja.

Juazeiro, seja franco, ela tem um novo amor,

Se não tem, por que tu choras solidário à minha dor?

Este seu diálogo íntimo com uma árvore me comoveu. Depois, vi que ele era um prosador nato: falava com o Céu, a Terra e seus variados habitantes. Mas glória, glória mesmo, foi quando a Rádio Difusora Municipal de Taperoá começou a apresentar o programa Música ao Entardecer, e lá vinha a Ave Maria de Gounaud, aqui – acolá uma música clássica que o locutor chamava de fúnebre e… Luiz Gonzaga!

Tudo me tocava de uma maneira especial. Eu subia no muro do curral para ouvi-lo falar, cantando de tudo que nos cercava, entre o troar do zabumba e o tremelicar do triângulo, com uma percepção pujante de nossa realidade e uma forma comovente de expressá-la.

Como interiorana que sou, já vi esta festa ser realizada de toda forma possível: na frente de casa de fazenda, no clube da cidade, no terreiro do prefeito, na divisa de dois municípios, na ponte.

Pensei haver esgotado os possíveis modelos deste encantador fuzuê, onde tudo encanta: roupas, música, manjares, matutices, brincadeiras…

Hoje, em Recife, pertenço à Cultura Nordestina, que sempre se esmera em fazer de tudo o melhor: este ano, por conta do coronavírus (estamos em quarentena) vamos ter tocadores, música de primeira qualidade na nossa sede (Rua Luiz Guimarães, 555, no Poço da Panela) e todos os nossos associados curtirão o embalo em suas casas, com comidinhas e bebidinhas…

Olha pro céu meu amor…

Não esqueçam: bandeirinhas, canjica, pamonha e… Luiz Gonzaga!!!

Com a maior penetração do Rádio, a música popular divulgou-se mais e Luiz Gonzaga tomou posse do seu lugar de Rei do Baião, com seu maravilhoso chapéu e mais maravilhoso, ainda, seu divino sorriso…

Bendito sois com teus altos e baixos, tua música participante, clara como um caco de vidro que se expõe ao Sol.

(Fogueira não. É contraindicado em tempo de pandemia).

 

Eugênia Menezes é escritora, socióloga e funcionária aposentada da Fundaj. É vice-presidente da Rede de Associados Letras & Artes – LETRART.

 

Cultura Nordestina

 

https://www.culturanordestina.com.br

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