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O milagre da leitura

Por Salete Rêgo Barros.

Muito se tem falado sobre o poder da oração – é através da prece que o nosso espírito acessa os que estão no Céu. Os milagres almejados vão dos financeiros aos de recuperação da saúde, passando pelos de ordem sentimental. No entanto, estamos sujeitos à competência do santo, que faz a intermediação entre nós e o Ser Supremo.
A meu ver, o caminho mais eficaz, por prescindir de intermediários, é o da leitura que tem o poder de oferecer uma visão crítica de mundo aos seus leitores, dando-lhes autonomia para exercer a cidadania em toda sua plenitude, dispensando, dessa forma, os milagres convencionais.
Através dos livros viajamos sem sair do lugar, sonhamos, conhecemos o pensamento de grandes autores, vida e obra de pessoas exemplares que marcaram época. Tempo e espaço tornam-se barreiras transponíveis através do exercício da leitura.
No início do século passado, Monteiro Lobato consegue imprimir sua visão de mundo, através dos livros, dando início à literatura dedicada às crianças, futuros adultos que deverão ocupar posições decisivas na construção de um mundo melhor.
Famoso por escrever livros onde se pudesse morar, Lobato criou o Sítio do Pica-pau Amarelo recriando o mundo ao seu redor, a partir de coisas do cotidiano; criou um universo para a criança, enriquecido pelo folclore; buscou o nacionalismo na ação das personagens, que refletiam na brasilidade, na linguagem, comportamento e na relação com a natureza. O Sítio possui traços de um brasileiro indignado com a exploração do petróleo. Logo depois, escreve O Poço do Visconde, que conta a história da descoberta do precioso óleo nas terras do Sítio. Não podendo se expor, criou personagens fantásticas, que dizem tudo o que ele pensa sobre a descoberta, entre elas Emília, que representa sua voz.
Através do imaginário, Lobato conscientiza com a sua literatura denunciadora, que envolve fatos políticos, econômicos e sociais. A obra literária para crianças é a mesma obra de arte para o adulto, diferindo, apenas, na complexidade de concepção – o que não a torna menos valiosa –, da mesma forma que há obras literárias simples para adultos, e que são consideradas obras-primas. Essa simplicidade de concepção deve criar a simplicidade da linguagem, na qual a literatura deve ser uma fonte repleta de sensações, emoções, imaginações que tocam a criança fazendo-a viajar e sonhar, ao tempo em que a prepara para a vida. Este é o milagre produzido pela leitura, e que só depende de nós para ser concretizado.

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