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Música & Realidade… um fio de esperança, por Ivanilde Morais de Gusmão

ivanilde

 

Ivanilde Morais de Gusmão é advogada, professora e escritora com vários títulos publicados no Brasil e exterior.

 

Cantando, nós vamos,

nós vamos sacudir você.

                                                                                                                                            (QUEEN, Banda de Rock’n roll)

 

É um grande desafio viver em recolhimento, reclusão obrigatória com filhos pequenos; um com quatro anos que passava o dia na escola para que pudesse tomar conta das coisas e ainda ter tempo para o trabalho profissional, e um irmãozinho com nove meses. No primeiro momento foi difícil e estressante, mas aos poucos vai se encontrando mecanismos e formas de aproveitar esse tempo que parecia partido. Uma das primeiras atitudes foi identificar como gerar harmonia, alegria e aprendizado. Assim, observar o que mais as crianças gostam de fazer, além de brincar. Verifica-se que gostam de música.

O pai, quando jovem, participou e tocou em várias bandas. Fez diversos shows e, agora, exerce a advocacia. Nas horas vagas senta com as crianças, toca e canta para elas. Em casa, além de violão tem flauta e tambor. Com eles as crianças brincam. O mais velho já sabe usar o violão, o irmãozinho sabe apenas dedilhar, prestando atenção ao som que sai do instrumento; mas gosta mesmo é apitar na flauta e bater no tambor. Às vezes temos que guardar para que possamos trabalhar.

Em relação aos vários brinquedos, o mais velho gosta de pintar, de reaproveitar o material usado como reciclagem. Fez, com a ajuda dos pais, um violão de palitos de sorvete, cordas de violão, parafuso, papel reciclado, embalagem de iogurte, CD e cordão, que tocava com orgulho e alegria. Com os brinquedos de armar faz prédios, pontes e castelos. Fica muito bravo quando o irmãozinho derruba tudo. Explicamos que ele é pequeno, depois vai aprender e ajudar a montar.

O pai sempre brinca com eles. Coloca músicas de bandas, clips, e mostra como usar o instrumento. Gostava de várias bandas do Brasil e do estrangeiro. Uma considerada fantástica, como muito sucesso, chamava-se QUEEN. O vocalista, Fred Mercury, arrasava na guitarra e cantava pra valer, diz o pai que, ainda hoje, tentando imitar… Dentre as músicas da Banda tem uma que ele ouve e toca para as crianças. Na tradução se chama “Nós vamos sacudir você, amigo…”.   A letra da música é de contestação, denuncia crianças abandonadas que moram na rua. O clip dessa música é de arrasar. Eles tocam, cantam, batendo com as botas no tablado, como se estivessem marchando para a luta, e num trecho destaca que “Você é um garoto, tocando na rua fazendo um barulhão (…) tem lama no seu rosto, sua grande desgraça, chutando sua lata por todo lugar. Gritando na rua, vai enfrentar o mundo algum dia.”

Moramos num condomínio com uma grande área de lazer. Quando descemos – agora usando máscara -, o mais velho anda de bicicleta, brinca com alegria e leveza com o irmãozinho e, assim, a vida vai tendo um novo significado nesse momento difícil. Apesar das grandes dificuldades, enfrenta-se a realidade com sentimento de ternura, afeto, música e alegria e, dessa maneira, ajudar a construir o mundo melhor para eles e para que todas as crianças sejam felizes.

Espera-se que, quando crescerem, sejam, como diz a música, “… um grande homem…”;  pessoas humanas dignas e que lutem pela humanidade. Essa é a esperança que se precisa ter para que a alegria, gerada pela música, nesse momento de isolamento, reine na realidade que se vive nesse tempo partido e de seres humanos perdidos.

 

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