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Djanira Silva: a voz contestadora, por Salete Rêgo Barros

Apresentação

Destaque literário de julho – Cultura Nordestina

 

Ao longo dos últimos 90 anos, a presença efetiva da mulher na sociedade vem desafiando o pensamento excludente e inibidor de qualquer manifestação feminina que venha a ameaçar privilégios, até então, exclusivos do sexo masculino.

Djanira Silva chega ao planeta Terra em 1930, e se depara com um mundo em grande ebulição. No Brasil, um golpe de Estado depõe o presidente Washington Luís, impede a posse de Júlio Prestes, presidente eleito, e Getúlio Vargas assume o governo provisório, que governa por decretos.

Nas artes, as ideias modernistas apresentadas na Semana da Arte Moderna de 1922 são consolidadas – há um rompimento com a arte tradicional, e tem início um período fértil e rico na literatura, com a concretização de valores que apostam em temas nacionais, sociais e históricos. 

Djanira Silva respira, em sua infância e adolescência, os mesmos ares que inspiram Carlos Drummond, Cecília Meirelles, Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, na poesia; Graciliano Ramos, Jorge Amado, Rachel de Queiróz e José Lins do Rego, na prosa. Ela recebe a influência do realismo e romantismo, da realidade social, cultural e econômica; da valorização da cultura brasileira e da psicanálise de Freud; do uso de versos livres e brancos; da linguagem coloquial e regional, presente na literatura.

Na primeira metade do século passado, as funções femininas adquirem novas perspectivas, que superam as de cuidar do lar, dos filhos e do marido; suas atividades são redimensionadas no quadro social e político, com a conquista da cidadania, do direito ao voto e outras formas de convivência, para além do espaço doméstico, proporcionadas pelo avanço da economia.

É neste clima de mudança de paradigmas que a menina Djanira cresce e se torna uma jovem inadequada ao estereótipo da moça recatada de uma cidade do interior pernambucano. Sua irreverência questiona a maternidade como motivação única da existência feminina, e a autoridade do homem sobre irmãs, filhas e esposas, que influenciava, autorizava ou desautorizava suas escolhas. 

A Pesqueira do século XX conheceu a Djanira transgressora, questionadora e causadora de inveja e admiração das mulheres que ansiavam por liberdade. O Recife conhece a poetisa e escritora admirada e (por que não dizer?), invejada, que teve o privilégio de trabalhar e conviver com o poeta Mauro Mota, entre outros grandes nomes da literatura pernambucana.  

A presença do humor em sua obra revela inteligência e sagacidade, atributos do bom observador. É esta a característica que torna a sua escrita reflexiva e questionadora, longe de ser, apenas, descritiva ou intimista. Quem lê Djanira Silva conhece os mais profundos sentimentos humanos sob as perspectivas da ironia fina, da galhofa e da seriedade, esta última implícita no livro “A morte cega”, de sua autoria, entre mais de 20 títulos publicados por ela.  

O próximo 25 de julho tem duplo significado para a literatura pernambucana: Djanira Silva completa 90 anos no dia em que é comemorado o Dia nacional do escritor. Durante todo este mês, a sua obra será divulgada na página do Destaque literário da Cultura Nordestina, através de postagens de vídeos, resenhas de livros, comentários de amigos, confrades e confreiras das diversas entidades literárias às quais ela pertence. 

Motivação para se viver plena e intensamente cada dia como se fosse o primeiro, e a certeza de que é possível se chegar aos 90 com a lucidez preservada e o espírito crítico afiado, são as importantes mensagens transmitidas por Djanira através da sua prosa, do seu verso e do privilégio de sua convivência.  

 

Salete Rêgo Barros

Arquiteta, editora e produtora cultural

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Respostas de 2

  1. Parabéns pela grande escolha do destaque Literário essa Dama da Escrita Djanira Silva.
    Maravilhaaaa a sua Escrita e uma pessoa que agradecemos a vida por ter a alegria de, na caminho da vida, usufruir do seu saber e de sua alegria!
    Grata Djanira pela bela, real e forte Escrita!!
    Com afeto ivanildescritora

  2. A escrita de Djanira é repleta de significados. Cheiros, sons tudo se reveste de magia na inquietação que move a escritora e que pincela os silêncios narrativos tanto na prosa como na poesia.

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