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Crônica da eterna busca, por Salete Rêgo Barros

Como sempre acontece, chegamos ao final do ano com a alma em festa, preparados para enfrentar um novo ciclo, plenos de esperança – sentimento que nos mantêm firmes na caminhada da vida.

As canções natalinas e os desejos de Feliz Natal e próspero Ano Novo são renovados por todo o planeta – todos, sem exceção, buscam a felicidade. Mas quando a agarramos pelos cabelos ela escapole, brinca de esconde-esconde, de maneira que não conseguimos segurá-la por muito tempo.

São várias as fórmulas mágicas para se encontrar a felicidade, nem que seja por alguns momentos – luzes, roupa nova, viagens, mesa farta, compra de presentes, distribuição de alimentos e brinquedos entre os pobres, confraternizações, show da virada, queima de fogos…

Mas esta é a história que só pode ser protagonizada por alguns. Os outros, aquela massa que proporciona os momentos de felicidade aos que vivem protegidos dentro da bolha, certamente, não podem ser protagonistas da mesma história. A deles é bem diferente – mesmo que tenham acesso a alguns privilégios sentem a sua limitação e fugacidade. O que fica é o vazio, a eterna busca e a esperança sempre renovada a cada início de ano.

Assistimos perplexos à desqualificação do patrono da Educação no Brasil, por parte de 55,13% da população brasileira – o educador e filósofo pernambucano Paulo Freire, um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, o que deveria ser motivo de orgulho para o povo nordestino.

O método de alfabetização de adultos criado por ele beneficiou, no século passado, cerca de seis milhões de brasileiros, até então, analfabetos e, por isso, privados de votar. O método visava abolir a desigualdade social no país, e aumentar os momentos de encontro com a felicidade a que todo ser humano tem direito.

Desqualificar, com base em parágrafos manipulados e isolados do contexto de sua obra, o agraciado com cerca de quarenta e oito títulos, entre doutorados honoris causa e outras honrarias, de universidades e organizações brasileiras e do exterior, considerado o brasileiro com mais títulos de doutorados honoris causa, e o escritor da terceira obra mais citada em trabalhos de ciências humanas do mundo é impensável.

Mas tudo isso é compreensível. Afinal, o egoísmo não permite dividir privilégios; a intolerância não consegue enxergar o outro como outro; o preconceito não tolera o diferente. E para escamotear sentimentos impuros aparece a vaidade elevando ao patamar superior a caridade – cantada pelo poeta que desenhou o Nordeste no mapa do Brasil – Luiz Gonzaga: “a esmola para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

A lógica perversa diz que qualquer tentativa de tirar o povo trabalhador da zona de ignorância e capacitá-lo a enxergar a realidade com espírito crítico e independente deve ser destruída. Por isso, o fantasma de Paulo Freire vem assombrando tanta gente fina. Afinal, quem limpará as latrinas?

A cegueira moral e intelectual que envenena o país deve ser combatida com um antídoto poderoso: a resistência aliada à arte, à Educação e à cultura. Professores, escritores, artistas, produtores culturais, classe trabalhadora, os que não se submetem aos interesses escusos político-partidários devem encampar a transformação dessa realidade grotesca, que nos arrasta para os labirintos da infelicidade, do medo, do adoecimento, da morte da humanidade e destruição do Planeta.

2 respostas

  1. Maravilhoso o eu texto Salete.
    E isso que estamos vivenciando nesse país tão bonito, mas que infelizmente está vivendo um processo de total retrocesso.
    Como sempre , a elite egoísta não permite que todos sejam felizes.
    Acho que o povo brasileiro passou por uma lavagem cerebral que os tirou do bom senso.
    Parabéns

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