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Carta de Paulino Fernandes a Clarice Lispector

paulino

II COLETÂNEA DE MEMÓRIAS CARTA A CLARICE LISPECTOR

 

Recife, novembro de 2020

Clarice Lispector,

Escrevo-te esta carta para contar um pouco de como estamos vivendo, mais de 43 depois que mudaste. Logo depois de sete anos, experimentamos uma retomada da vida democrática no País. Sabemos o quanto isso importou em tua produção literária, pois nas duas últimas décadas, em que estiveras aqui entre nós, não tínhamos tanta liberdade de expressão e de manifestação de pensamento. E o tempo se passou. Revendo aquela última entrevista que deste para a TV Cultura, em princípio parecia que tudo tinha chegado ao fim. “Só que não” (para usar aqui uma expressão da juventude, público confesso que tanto se identifica com a tua escrita, como afirmaras). Conclui que nem imaginarias que o legado literário, àquela altura de 1977, já estava plantado para uma infindável posteridade literária. E tenho boas notícias. Começo pela honraria que Pernambuco te concedeu agora, no mês de agosto, com o título de “Patrona da Literatura Pernambucana”. Já conferi aqui, no Diário Oficial. Sei que o reconhecimento poderia ter vindo antes, mas nesse caso, acho que é valido aquele adágio popular “Antes tarde do que nunca”. Só que as homenagens e as lembranças da contribuição literária não pararam por aí. Há um Projeto para restauração daquela Casa em que viveste aqui, na Praça Maciel Pinheiro. Pretende-se lá instalar um Centro Cultural, que possa perpetuar tua memória literária. Vou tentar acompanhar tudo o que puder, mas já adianto que a FUNDAJ, junto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, deu os primeiros passos, com o Edital. E os jornais estão anunciando essas e outras boas novas, especialmente neste ano de celebração de teu centenário. Tem mais: ainda por iniciativa da Fundação Joaquim Nabuco, a Assembleia Legislativa do Estado  te concedera o título honorífico de “cidadã pernambucana”. Podes agora abrir o sorriso, Clarice: o ano de 2020 é teu. Aqui e lá fora. E o Recife está todo em ti, como afirmaras, antes de alçar vôo para o plano superior dos gênios.

Alegro-me muito em te contar essas boas novas, principalmente, porque estamos atravessando um ano tão difícil por aqui, hein? Que nem te falo. Ao menos por enquanto, não vou deixar que os contratempos que estamos suportando, com a chegada de uma Peste indesejável, ofusque a alegria de comemorar o lado bom deste ano, que é o teu aniversário. Quero falar de coisas boas, nem que pareça aos demais que fui acometido pela ingenuidade da Macabéa. A propósito, quando releio “A hora da estrela”, não me contenho, com as falas engraçadas e o modo de ser desta personagem que criaste. E quando assisto ao filme também, viu? Ou deveria dizer, como o Recifense: “visse”? Afinal, assim como tu, não vim de tão longe, como a Ucrânia, embora de mais perto, que é o Ceará. No entanto, já me sinto em casa e, como tal, assimilei as expressões dessa gente tão acolhedora.

Ainda sobre “A hora da estrela, Clarice, a adaptação de tua novela, para o Cinema, ficou ótima. Tanto que a premiação foi fatal, com o Urso de prata em Berlim, para a Atriz Marcélia Cartaxo, que se imergiu, completamente, na pele da personagem. Afinal quem não se esmeraria tanto, para corresponder à criação literária advinda de ti, Clarice? Parafraseando aqui Saint Exupèry: “Tu te tornas responsável por tudo aquilo que cativas”. E como nos cativaste, “visse?”

 

PAULINO FERNANDES DE LIMA é natural de Sobral, Ceará, nascido em 6 de janeiro de 1974. Bacharelou-se em Direito, na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), em 1999. Pós-graduado em Direito processual penal (UNIFOR, 2000); em Estudos literários e culturais (UFC) e concluiu o Mestrado em Letras, na Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2006. Aprovado no primeiro concurso (2016) para Defensor público do Estado de Pernambuco, tomou posse em 2010. No magistério de ensino superior, leciona as disciplinas de Direito penal e Constitucional, além de “Redação técnico-jurídica”, Curso que criou, desde seu magistério na Universidade de Fortaleza. Colabora na imprensa, com artigos que abordam temas jurídicos e afins. Criador e apresentador do programa de rádio “Educação e cidadania em pauta”, por também possuir o Curso de locução e apresentação de rádio e TV. Escreve também sobre a “Sétima Arte”, possuindo o Curso de Crítico de Cinema. Autor do livro “Reflexões de um defensor público & outros temas”, editado pela Novoestilo Edições do Autor em 2020.

 

Acesse o Edital de participação da Coletânea Cartas a Clarice Lispector

https://culturanordestina.com.br/ii-coletanea-de-memorias-cartas-a-clarice-lispector/

 

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