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Segundo conta a mitologia grega, Gaia, a Mãe-Terra, teve com Urano, deus do céu, uma filha, Teia.

Longe do Olimpo, astrônomos ensinam que dois planetas em mesma órbita solar se chocaram há milhares de anos. Parte do núcleo ferroso de Theia afundou na Terra e nela permaneceu incrustado; o restante foi projetado para o espaço, dando origem à Lua.

Não é lenda. É ciência, esta que parece faltar à humanidade neste antropoceno – expressão que vem do grego, anthropo (humano) e ceno (era geológica) – caracterizando a época do impacto do homem sobre a Terra, marcada pela alteração irreversível dos processos biofísicos no planeta.

Seria perfeito, e mesmo belo, se de tal impacto surgisse um outro astro, uma nova Lua, com quem os enamorados pudessem conversar em silêncio e os loucos se fazerem compreender com ternura.

A realidade, contudo, é outra. Como explicar ações, deliberadas ou não, individuais, empresariais e mesmo institucionais, visando à destruição da Terra? O desacerto é tamanho que o antropoceno foi definido como uma nova Era. Iniciada nos anos 1800 com a revolução industrial e a consequente concentração de dióxido de carbono na atmosfera, causa, entre outros danos, o temido aquecimento global.

Ailton Krenak, inconformado, publicou um livro lúcido: “Ideias para adiar o fim do mundo”. Entre elas, sonhar. Parece absurdo, claro, porém ao menos não incentiva o fazer destrutivo, poupando a natureza que, embora muitos não percebam, somos também nós.

Sonhar sempre foi o recurso dos desesperados. Charlotte Bernard, em “Sonhos do Terceiro Reich”, publicou sua pesquisa junto à população alemã feita em 1933, quando Hitler chegava ao poder.

O medo que se disseminava no cotidiano da sociedade, a angústia da impossível dissidência ao nazismo e a segurança decorrente da atitude conformista, transformavam os sonhos em única manifestação possível.

Em um dos registros, uma mulher se via presa por lembrar de Hitler quando ouvia a palavra ‘diabo’, o que era detectável por uma máquina criada pelo polícia para ler pensamentos.

Tal como na Alemanha nazista, a discordância contra a pós-modernidade artificialmente inteligente requer coragem. E sonhos.

Se sonhos são compensações por atitudes conscientes, sonhar será, talvez, o último perdão possível que merecemos, humanos do antropoceno, frente à Terra, planeta onde vivemos, e à Lua, satélite cuja beleza nos leva a sonhar.

 


Bruna Estima Borba

É escritora de novelas e contos ambientados na cidade natal, o Recife. Sua literatura é contemporânea contendo, de passagem, referências históricas. A narrativa tende para a comicidade, sem descuidar de sentimentos. É autora de diversos contos e das novelas “Tempo”, “Vivendo as circunstâncias” e “O Edifício Estrela”. Tem inédita “Era uma vez uma casa mágica”, novela voltada para o público infanto-juvenil.

 

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Respostas de 2

  1. Bruna, seu belo texto é um oásis neste cenário apocalíptico das queimadas que tomam conta do Brasil neste momento. É preciso registrarmos sentimentos de indignação perante o absurdo e o grotesco que toma conta do mundo e nos arrasta à barbárie. Mas não vamos deixar de sonhar. É preciso sonharmos juntos com um mundo melhor e mais justo! Vai passar…

  2. Um texto para ser lido e relido, pensado e repensado, sobre um mundo ainda em tanto sonhado. E o sonho é o que continua nos movendo, sempre. Muito bom, Bruna! Parabéns!

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