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“Sou a vida” e outros poemas, por Manoel Dias da Fonsêca Neto

Sou a Vida

 

Eu sou a vida!

Sou terra, água, fogo e ar.

Lua e sol,

sombra e luz,

grão e duna,

onda e mar,

cor e arco-íris,

estrela e constelação,

partícula e universo,

profana e sagrada,

existência e transcendência,

efêmera e eterna,

morte e renascimento.

Ser em transformação,

buscando a plenitude

do uno e do todo

 

Cy, a deusa-mãe

 

Cy, deusa-mãe de toda a criação

na teogonia indígena brasileira,

da vida tinha o poder da nutrição,

dadivosa e, do amor, a mensageira.

 

Guaracy, o Sol, a mãe dos viventes,

Jacy, a Lua, a mãe dos vegetais,

de suas entranhas brotavam sementes

de homens, plantas e dos animais.

 

Espíritos benfazejos da floresta

de Guaracy recebem a missão,

a cada dia cumprir sua gesta

em ato de cuidado e proteção.

 

O Guirapuru, o pássaro protegia,

o Anhangá, do campo, os animais,

Caipora, no porco, em montaria,

dos bichos da mata guarda a paz.

 

Uiara, guardiã dos peixes e das águas,

toma jeito de boto em sedução,

das amantes índias leva suas mágoas

e deixa saudade em seu coração.

 

Jacy, a Lua, faz sua parceria

com Urutau, o fantasma noturno,

que põe o invasor em correria,

ao soar firme seu canto soturno.

 

O Saci-pererê de uma perna manca

e no joelho traz dois ferimentos,

cuida bem das ervas e a dor estanca,

preparando chás, meizinhas, unguentos.

 

O Curupira tem os pés virados

desorienta quem destrói a mata,

que vaga tonto em caminho errado,

a volta à casa é tarefa ingrata.

A Serpente de Fogo, Mboitatá

persegue quem, no campo, faz queimada,

seu corpo arde e sofre sem parar,

sua pele queima forte ao ser tocada.

 

Cy, a mãe Natureza generosa,

harmonizava energias vitais,

a deusa feminina amorosa

protetora dos povos ancestrais.

 

Mãe Natureza

 

Senhora das florestas

e das terras férteis,

Senhora das ventanias

e dos mistérios do fogo,

 

Senhora dos verdes vales

e das montanhas,

Senhora dos rios, dos mares

e das águas calmas,

 

Senhora dos minerais

e dos tesouros adormecidos,

Senhora dos seres moventes,

dos que voam, dos que nadam,

dos que caminham,

 

Nossa Senhora protetora de todos os viventes,

derrama tuas bênçãos

sobre a terra, nossa morada,

estende teu manto de luz

sobre teus filhos e filhas.

 

Oh Mãe Natureza,

que tua paz esteja conosco

e com as gerações que hão de vir.

Nós te reverenciamos, Mãe, agora e sempre.

 


Manoel Dias da Fonsêca Neto

Médico, Especialista em Epidemiologia e Saúde Pública e mestre em Gerenciamento de Sistemas Locais de Saúde pelo Instituto Superiore di Sanitá – Roma-Itália. Membro fundador da Escola de Saúde Pública do Ceará. Foi Secretário da Saúde de Fortaleza e de Beberibe. Publicou Desafios para a Saúde Pública do Ceará, Iracema Nosso Amor, Tempo de Nascer: O Cuidado Humano no Parto e Nascimento, Benditas & Guerreiras, Lendas e Encantos, Baú dos Avós, Fortaleza Cidade Saudável e Fraterna, Madalena e o Sagrado Feminino, Meu Povo Ancestral, Escravidão e Lutas de Libertação e Sendas Poéticas. Membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES-CE, associado ao Movimiento Poetas del Mundo, titular da Academia Quixadaense de Letras (AQL), da Academia Cearense de Médicos Escritores – ACEMES, da Associação Cearense de Saúde Pública – ACESP e da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia – ABMMD.

 

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