Roteiro imaginativo
Suponha que está num local com lago artificial e presença de diversas aves. Durante algum tempo, você contemplou as aves nadando na superfície do lago. Surgiu, então, o desejo de fazer uma foto. Você tem em mente que uma foto é “luz registrada em determinado momento”. Mas, fotografar o quê? Qual a intenção? Logo, vislumbra um cisne negro a certa distância. Teria surgido a intenção? Fazer a foto lhe pareceu fácil. Apontou a lente da câmera fotográfica do celular na direção da ave e rapidamente capturou a imagem (Fig. 1). A presença na foto das folhas de cor verde-pálido da planta, da linha curva sinuosa do canteiro e dos reflexos na superfície do lago lhe agradaram. De imediato, compartilhou a imagem com familiares, amigos e em redes sociais. Algo, porém, fez sentir que era possível expressar de forma mais criativa sua intenção. Começou, então, a imaginar como e em qual momento poderia fazer uma foto artística da ave. Decidiu esperar um pouco.
O cisne nadou para um local próximo de onde você estava. A luz do Sol poente iluminava diretamente parte do corpo da ave, tornando a cor das penas de tom amarelo com algumas estrias negras. O cisne, então, resolveu beber água. Com leve movimento da cabeça, inseriu o bico na água fazendo surgir pequena sombra e ondulações na superfície. Você sentiu que era ocasião de fazer a foto. Apontou a lente da câmera fotográfica do celular na direção da ave. Logo surgiu uma imagem da cena na tela do aparelho. Você, agora, fez o enquadramento, destacando o corpo do cisne e a porção ondulada da superfície d´água. Em seguida, observou se o aparelho havia focalizado os elementos da imagem. Estavam nítidos. Olhou mais uma vez para tela. O aparelho tinha determinado a Exposição “Adequada”. Isto é, a imagem presente na tela não era nem muito escura nem muito clara em relação à cena. Tocou, então, firme na tela do aparelho para fazer a exposição. Isto é, fez a captura da imagem em um “momento oportuno” de registro da luz.
A segunda foto está feita (Fig. 2). Você, libertando-se do “automatismo fotográfico” * (prática corriqueira nas fotos com celular), criou uma imagem que agradou ao olhar e provocou uma satisfação interior. Sua foto, agora, sugere a história de um cisne negro bebendo água, com parte do corpo iluminada por luz do Sol poente. Ainda mais, para sua satisfação, alguns aspectos artísticos da imagem resultaram da percepção sobre: a característica da luz do Sol – colorindo de amarelo com estrias levemente negras as penas do pescoço do cisne -; a forma distorcida da sombra – de parte do corpo da ave – na água; e o tom azul-cinza das ondulações na superfície do lago. Tudo isto, havia sido concretizado naquele “momento oportuno” de registro da luz.
Lançada ao mundo, você espera que a imagem atraia olhares e provoque sentimentos diversos.
Figura 1 Figura 2
Olinda, 10/11/2024
*Termo criado por Leonardo Pastor (Dissertação de Mestrado -UFBA. 2016.)