Escombro (folha sobre folha)
Não restara folha sobre folha. Nem notas musicais O sol não formara frase Fonemas únicos solfejavam dor.
A copa das árvores não servia morada O alimento fumegava fumaça E toda a vida latejava ardor Era GUERRA à sombra da morte Os sons dissonantes gritavam PAVOR Por entre paredes cravejadas de arame Almas decalcadas de olhos arregalados de HORROR. A cidade ofertava balas nos sinais Onde não transitavam PÉS Por entre paredes a cidade se espremia E eu lia a mão do tempo Pele queimada de tanto atropelo, ganância, dinheiro e agonia. Tudo ao som do talvez. Os sobrados soerguidos sobre as almas estendidas RIO A FLORA.... AGUA VERMELHA de um império que estrangula FURA a vida com a GULA DEFLORA A ALMA DA MATA quem de mãos estendidas chora, proclama, pede, implora. A MATA que não mata Falando em brisa Mas a mão pesada da civilidade decreta meios Manda toda a vida EMBORA Falando em preço, balança e valores, etiquetando a vida que não criou. Já sabendo que o FIM conta agora a soma dos NOVES FORA. MENOS. A terra vai virando cacos E não há matemática que possa somar. Não há linha que costure Aquilo que a humanidade não soube AMAR. Asfalto A Cidade pisa asfalto O pé embriagado de caminhos A terra bebendo água da chuva Cumpre o seu curso de seguir do céu pro rio. A água que vai pras nuvens E tece gotas de novo fio a fio. A ignorância que asfalta a terra. Tirando grão de areia Sufocando a pele do leito Secando as margens do cio/rio... Da veia que veio cobrir de vida. Os sonhos inexatos em doses de amor Matando de sede no ato Cobrindo de vida a flor A terra que se cobre de fato Lençóis freáticos de amor. Enquanto o humano desfaz a obra que nunca plantara. Emplastificando a terra de asfalto. Pra desfilar por ELA os carros movidos à DOR.
Célia Martins
É escritora, poeta, atriz, pintora, formada em Letras Português/Francês pela UFPE, pesquisadora de Línguas Indígenas, Coordenadora do projeto (Id.)entidades, que busca debater o papel da mulher na sociedade, dos povos indígenas enquanto
parte de uma das muitas de nossas identidades, da importância do universo preto como parte também dessa nossa identidade, dos preconceitos diversos, inclusive LINGUÍSTICO, das nossas identidades Culturais; escreveu e dirigiu os espetáculos CONTOS DA ABOLIÇÃO E OLHARES, e, criou e dirige o Projeto: O VERSO E A VOZ: A DRAMATURGIA DA PALAVRA, uma eletiva desenvolvida junto a estudantes do ensino fundamental 2 da rede pública da cidade do Recife, onde é também professora concursada. Dirige o espaço CULTURAL A CASA DO SOL em OLINDA.