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Dizem que o único Deus é o de Spinoza. Minha infância, cercada pela Natureza, foi testemunha do filósofo.

Cresci próxima de Deus. Formigas caminhando em fila, indo e vindo apressadas; o boi Tadeu percorrendo o cercado; a vaca Naná – meu presente de aniversário, compartilhado com os oito irmãos e irmãs – a dar bom-dia pela manhã; pássaros nos acordando com música, e pondo para dormir à tardinha com seu arrulhar de aconchego; o galo Mané gritando em nossos ouvidos a hora de levantar; a carne verde secando no varal na cozinha e o carcará, do lado de fora, de olho nela; um raro arco-íris duplo num improvável dia de chuva naquele sertão seco e, mesmo assim, bonito demais; a galinha Margarida pondo um ovo todos os dias – quando envelheceu, ninguém quis matar, terminou dormindo, na sala, sobre uma almofada, junto do cachorro Fubá.

Hoje, tempo passado, penso em minha existência efêmera, lembro da modinha da madrinha Mariinha: “por que a vida é fugaz, breve, passageira; a gente sofre demais, por bobagem, por besteira; melhor é viver em paz, pois quando se olha para trás, lá se foi a vida inteira”. Certíssima, madrinha.

Fecho os olhos e me vejo novamente ali, eu e a Natureza, sendo um só.

 


Julieta Estima Borba

Advogada aposentada, leitora assídua, encantada com a vida, esta é a escritora que vem homenagear nossa Terra e nossa humanidade.

 

 

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