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A santa, por Bruna Estima Borba

Bruna

PUBLICAÇÃO DE ASSOCIADOS LETRART

Para Carolina de Jesus

Caminhava distraída,
ia à frente da igreja e a tarde caía.
Porque senti um mal súbito,
e bancos vazios convidavam,
entrei, alheia ao que ali ocorria.
Pensei estar sozinha,
um equívoco inocente,
como se verá brevemente.
No banco em que sentei,
lá em cima avistei,
duas santas conversavam.
Ouvi-as assombrada.
As sacras senhoras divergiam
sobre quem morria e vivia,
quem para o céu seguia,
quem ao inferno descia.
Ajoelhei-me depressa.
Será que as santas me viam?
A conversa transcendental
causou-me um susto mortal.
Olhei em volta hesitante.
Percebi que naquele instante,
outros já estavam lá.
Será que eles, as santas ouviam?
Pelo jeito compungido
somente eu escutava
o sacrossanto colóquio.
Aquele sagrado testemunho
acovardou-me profundamente.
Cri melhor ir-me embora
desde logo, imediatamente.
Mal me pus de pé, entretanto,
uma delas fez-me: – Psiu!
Apavorada, estanquei,
esperando o vaticínio.
Seria o céu ou o inferno,
o prognóstico definitivo?
Tinha por certo que meus erros,
entre tantos praticados,
conduziriam por rigor
a uma espécie de limbo.
O purgatório, quiçá,
seria meu melhor castigo.
De todo modo a um lugar,
como é próprio aos humanos,
onde outros como eu,
ressurgiriam sem pesar.
Nessa reta que é o tempo,
cujos traços formam o círculo,
minha alma seguiria,
para cumprir seu destino.
Para meu espanto, contudo,
as santas, em uníssono,
formularam minha sina,
dizendo numa só voz:
– Suba ao altar, Carolina.
Siga em nossa companhia.

19-11-2020

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