No romance de Graham Greene de 1952, com o mesmo título acima, o agente da CIA, Alden Pyle, chega a Saigon para conspirar contra os franceses que dominavam a Indochina. Envolveu-se numa grande confusão (amorosa e política!). Na segunda metade dos anos 70 (em plena luta contra a ditadura), quando nossas universidades estavam apinhadas de agentes de… -taokey!- “inteligência”, a presença de um americano no curso de História da UFPE (um Departamento vivendo a transição entre uma historiografia “positivista” e uma visão que nós chamávamos de “crítica”, de inspiração marxista), a presença de um professor americano entre nós levantava fortes suspeitas: era o professor Marc Jay Hoffnagel, que acaba de falecer aos 77 anos de idade vítima de grave acidente vascular. Marc era novaiorquino, descente de família judia e veio pela primeira vez ao Brasil no fim dos anos 60 para fazer pesquisa sobre a economia açucareira (fez pesquisa na Usina Coruripe em Alagoas) auxiliando o “brasilianista” Peter Eisenberg (autor de “Modernização sem mudança”). Depois voltou para integrar
os quadros do Departamento de História.
Foi o único professor que tentou me reprovar (por falta!). Mas não conseguiu! O Departamento não deixou. Ficamos mais próximos na Pós-graduação. Foi ali onde pude conhecer a figura afável e bem humorada (um humor ácido e irônico que derramava sobre nossa vida cultural) e decidiu, diferentemente de Alden Pyle, ficar definitivamente no Brasil (dizia que quando voltava ao EUA era visto com alguma desconfiança: falava inglês com certo sotaque brasileiro!). Quando o convidei para ser membro de minha banca de Mestrado – uma dissertação sobre o Partido Comunista Brasileiroele não gostou do fato de eu ter afirmado que “os americanos invadiram a Baía dos Porcos, em Cuba!”. –“Nunca!, disse-me, prepararam e financiaram os contra revolucionários, mas não invadiram!”. “- Tudo bem Marc, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim”… respondi! Ele riu! A última vez que o encontrei, ele estava num bar, com um broche de Obama, então candidato.
Não entendo como alguém pode querer ser brasileiro tendo nascido num país como os EUA. Reconheço que havia, naqueles meus anos de estudante, um charme em nosso modo de ser e viver que atraía os estrangeiros: estamos perdendo tudo isto, o Brasil está, na verdade, “desaparecendo”. Marc, o “americano tranquilo”, que amava este país, preferiu não ficar para ver no que ia dar! Queria ser enterrado aqui, num gesto final de amor inexplicável. Como todo amor…
Flávio Brayner (UFPE)