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Memórias natalinas, por Suzana Cavalcanti

Suzana Cavalcanti

O despertador tocou logo cedo, naquele 24 de dezembro. Quanta coisa por fazer! Pôr a galinha recheada de farofa com fígado de galinha, azeitonas, ameixas e defumados para assar logo cedo, assar o pernil e, depois, o bolo de chocolate. Fazer a salada de maionese e o salpicão.

Todo ano era assim. Família grande reunida liderada belissimamente por seus mentores: José Casado de Araújo Cavalcanti e Josefa Severina Cavalcanti.

Éramos quatro filhos e eu, a caçula, adotada para ser a “eleita” de uma família biológica de cinco filhas. Minha Mãe/Avó fazia muita questão de reunir a família e tinha o apoio incondicional do grande e especial marido e companheiro de jornada.

A cada ano, a Casa Mágica de Papai Noel se enfeitava de afetos, gentilezas e bonitezas para a chegada do Menino Jesus e do Noel que, a cada ano, me trazia um simples presente que deixava debaixo da minha cama. Neste Natal ele me deixou uma boneca gordinha e ruiva parecida comigo. Quase morro de alegria! Papai Noel deixou um bilhete dizendo “Deixei esta simples boneca e não a Beijoca da Estrela, porque Papai Noel tem muitas crianças para presentear”.

Todos os filhos e noras colaboravam na ceia. Tia/Irmã Marlene trazia os doces finos e Tio/Irmão Jorge as bebidas. Meu Pai/Avô comprava passas, ameixas, nozes e figos. Meu pai biológico, Paulo Casado, trazia a toda a família vestida com modelos criados por minha Mãe biológica, Elza Lopes, e o seu coração de sofredor. Acho que se sentia um peixe fora d’água. Eu não entendia. Mas ninguém ousava desacatar ou desapontar a matriarca. Ela sabia de tudo e o que era melhor para cada um. Com o seu jeito duro e ao mesmo tempo afetuoso, alimentava o corpo, o coração e a alma de todos, sem distinção. Ela me deixou um bilhete onde dizia: “Se um dia eu for feliz, você vai ser também.” Eu tenho esse bilhete. Ela não sabia que era feliz e eu também. Éramos pobres FELIZES. Ricos em educação e cultura erudita misturada com operária.

Mas, voltando a casa… Era toda decorada a partir do dia 1º de dezembro (primeira semana do advento) e parecia uma lapinha no Dia de Natal. Eram muitas as luzes e os neons. Também o perfume de incensos para espantar o mau olhado e levar as energias negativas embora.

Muitos eram os sons, e os preferidos eram os dos discos de Roberto Carlos que a cada ano lançava um novo LP. Tínhamos a coleção. A música preferida para tocar para o meu querido Pai/Avô era: “Meu querido, meu velho, meu amigo.” Todos nós cantávamos e nos emocionávamos JUNTOS.

A casa pequena na Rua Alfredo Becker, 108, no Cordeiro, cabia também os amigos e agregados da família. Todos eram bem vindos e a comida se multiplicava como na Santa Ceia. Milagres aconteciam.

A realidade de uma família de classe média que somava seus recursos em prol do coletivo era dura, mas a marca da ALEGRIA, da PAZ, do AMOR e da SOLIDARIEDADE era o nosso escudo.

Natal, portanto, tinha significado. Todos amavam e eram amados. Acho que é porque nesta época, familiares e amigos se reuniam. Amigos antigos voltavam a se encontrar. Amigos queridos, mas sempre ocupados, abriam horários nas agendas para se reunir e se abraçar. E a família reunida renova laços de AMIZADE, AMOR, CUMPLICIDADE E SOLIDARIEDADE para ter forças renovadas para iniciar um NOVO CICLO cada vez melhor e onde todos pudessem EVOLUIR. Este era o significado do Natal em Família. Sigo a TRADIÇÃO!

Hoje celebro com minha neta Letícia, meu filho David, minha nora Helena e minha mãe Elza – inspirações para viver.

https://www.culturanordestina.com.br

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