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5 de setembro – Dia Internacional da Mulher Indígena, por Suzana Cavalcanti

DIVULGAÇÃO DE ASSOCIADOS LETRART

Para as mulheres indígenas a defesa da terra é a própria defesa do corpo.
(Lorena Cabnal)

Não poderia deixar passar em branco o Dia Internacional da Mulher Indígena, uma vez que minhas tataravós, bisavós e avós maternas eram indígenas.

Para elas corpo era território sagrado. Templo divino. Por isso a cumplicidade da minha mãe com o meu pai até que a morte os separou para todo o sempre.

Esta forma de ver marcou a minha trajetória pessoal, profissional e política.

Tendo sido excluída do seio familiar aos três anos, para ser criada pelos avós paternos (brancos europeus), senti na pele o que era ser filha de mãe indígena e ter sangue ÍNDIO.

A cada “malcriação”, um retrucar: – “Não nega ter sangue ÍNDIO!”

E foi assim, que eu fui tecendo o fio dessa história de exclusão e luta por dignidade, respeito e solidariedade, e que nasceu a menina que sonhava voar. Voar para além do horizonte das Culturas e Artes – erudita e popular, em cena.

Uma história de dor é sentida pela filha mestiça de sangues indígena, preto e branco, na prece da mãe “dor” e “amor” em suas conversas diárias com Deus para curar a prole:

PRECE DE CÁRITAS

Deus, nosso Pai, que sois todo poder e Bondade, dai a força àqueles que passam pela provação, dai a luz àqueles que procuram a verdade. Ponde no coração do homem a compaixão e a caridade.

Deus! Dai ao viajante a estrela guia, ao aflito a consolação, ao doente o repouso.

Pai! Dai ao culpado o arrependimento, ao Espírito a verdade, à criança o guia, ao órfão o pai.

Senhor! Que vossa Bondade se estenda sobre tudo que criastes.

Piedade, Senhor, para aqueles que não vos conhece, esperança para aqueles que sofrem.

Que a vossa Bondade permita aos espíritos consoladores, derramarei por toda a parte, a paz, a esperança e a fé.

Deus! Um raio, uma faísca do Vosso amor pode abrasar a Terra, deixa-nos beber nas fontes dessa Bondade fecunda e infinita e todas as lágrimas secaram, todas as dores se acalmaram.

Um só coração, um só pensamento subirá até Vós, como um grito de reconhecimento e de amor. Como Moisés subiu as montanhas, nós Vos esperarmos, com braços abertos. Oh!

Bondade! Oh! Beleza! Oh! Perfeição e queremos de alguma sorte, merecer a vossa misericórdia.

Deus! Dai-nos força de ajudar o progresso a fim de subirmos até Vós; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o espelho onde refletirá a Vossa própria imagem.

(Esta prece foi psicografada na noite de Natal, 25 de dezembro de 1873, pelo médium Mne. W. Krell, em Bordeaux – França)

Na sua agenda está incluída a luta pelo progresso para todos, e a pauta que é do interesse do POVO Indígena é: Terra, Moradia, Saúde (cura), Educação (do ensino infantil ao superior), Cultura (erudita e popular), Artes (cênicas, visuais, plásticas, literárias e marciais) e Lazer, porque ninguém é de ferro.

Estes pontos são inegociáveis: é direito garantido pela Constituição de 1988 e é dever a ser testado em forma de prestação de serviços à sociedade, em forma de projetos exequíveis de Educação, Cultura e Artes.

Trata-se da minha menina indígena, que teve acesso aos bens culturais, artísticos e sociais que a humanidade lhe reservou e pelo qual sou reconhecida e grata nas figuras de Josefa Severina Cavalcanti e José Casado Cavalcanti, meus pais por ocasião da “falta” dos pais biológicos: Elzania Lopes Ramos e Paulo Casado Cavalcanti.

Seria muito lindo tudo, se não houvesse dor. Mas a dor se transformou em AMOR pelos povos excluídos e invadidos do planeta: desde o local até o intercontinental.

No meu caso, venho da Praia da Ridinha no Rio Grande do Norte. Minhas tataravós, bisavós e avós maternas eram indígenas de lá. Até onde eu sei e o que eu consigo lembrar é que minha mãe morava no Zumbi, na Torre, bairro da periferia onde meu pai se apaixonou por ela e engravidaram de mim como uma bênção da natureza com uma missão e propósito a cumprir.

Neste momento SOU uma demanda VIVA do Estado Brasileiro por direitos e deveres pautados em princípios e valores éticos e morais – sem hipocrisia e sem demagogia.

A causa indígena precisa ser ponto de pauta para a Humanidade e na direção da luz de suas riquezas de alma, de corpo e também de terra.

Nada de expulsar ou matar os povos originários do planeta.

Essa é a lógica do capitalismo selvagem.

Na social democracia há espaço para indígenas, negros e brancos.

Como socialista utópica, luto por um Estado onde o povo faz e escreve a sua história de vida no coletivo, num embalar de enredo e estrutura que aplainando um terreno de intenso trânsito, se situe no espaço e no tempo com estilo, conduzindo um romance linear: meu ideário e ideal.

Salve a Mulher Indígena!!!

Salve a minha ancestralidade Indígena!!!

Salve minha mãe Elzania Lopes Ramos!!!

Mãe, te Amo Muito!!!

* Suzana Lopes Cavalcanti é jornalista profissional e publicitária pela UFPE; especialista sênior pelo CE da UFPE; professora emérita da Universidade de Pernambuco; Co-coordenadora do Núcleo de Educação da LETRART/ Cultura Nordestina Letras & Artes.

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Respostas de 6

  1. Que bela homenagem, querida. Agora eu digo: tinha que ter sangue indígena correndo nas veias. Muito emocionante. A prece, linda. Por falar em Praia da Redinha, já comi muita tapioca com peixe lá. Meus primos de Natal tinham casa lá. Beijos para D.Elzania e outro grande para você, mulher de luta, de fé e da paz.

  2. Quanta alma contém esse texto querida Suzana!
    Reconhecer-se em todos os níveis nos cura e liberta para dar o nosso melhor ao mundo.
    Reconhecer e honrar os que vieram antes de nós, equilibra e harmoniza nosso caminho, nossas relações, realizações e propósito de vida.
    Transformar dor em amor é uma jornada artística, de coragem, perdão, consciência, desapego e cura.
    Assistir desabrochar essa mulher que tem tanto a contribuir com sua visão política, cultura, sensibilidade e sabedoria é uma alegria!
    Gratidão por sua contribuição para termos um mundo melhor!
    Grande e carinhoso abraço!
    Namastê! _/\_ 🌸🍃💜

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