Maria era uma garota raquítica, que vivia pelos cantos, na escola. Era inteligente e ninguém competia com seu boletim escolar exemplar, porém, não participava de nenhuma atividade, porque era tímida. Ser paquerada pelos meninos? Nem pensar, pois ela sequer queria cumprimentá-los. Tinha vergonha de se entrosar, porque todos deixavam ela para lá.
Chegou a época do São João. A escola mantinha a tradição de comemorar a festa junina, e inventou de fazer uma rifa do milho para coroar a rainha que mais vendesse os milhões. Foi uma agitação, e as meninas comentavam: “Vou vender, quero ganhar”. Mariazinha não pensava em competir, pois sabia que não tinha jeito para vender os bilhetes da rifa. Ao terminar a aula, foi para casa e comentou sobre o fato com sua mãe, mas não adiantou a conversa… Foi para o quarto estudar, como era de costume. No entanto, sua mãe não deixou para lá, estava cansada de ver sua filha nada fazer para interagir e ter forças para se sobressair. Às vezes, temos que ter uma ajuda que nos dê coragem. Dona Felicidade, mãe de Mariazinha, foi para a escola, falou com a professora e pediu vinte bilhetes da rifa para vender. A professora entregou, mas ficou sem entender porque a mãe havia pedido uma quantidade tão grande. Dona Felicidade se encarregou de vender, pois era uma dessas mães que, para ver sua filha sorrir, não tinha medo nem de vender rifa de porta em porta, como era de costume.
Dona Felicidade começou a costura de um vestido lindo de matuta, com acessórios de encantar. Caprichou até no arranjo da cabeça. Chegou o dia de prestar contas, foi à escola e entregou os milhos vendidos. Na véspera do grande dia, chamou a filha e lhe entregou o vestido. Mariazinha, por sua vez, ficou de queixo caído, e quase não saiu do lugar. No dia, foi novamente abordada por sua mãe: “Vamos minha filha, vá se arrumar, caso contrário, você vai se atrasar”.
Depois de arrumada, a menina foi até o espelho e viu que parecia outra pessoa. Falou emocionada: “Mãe, estou linda”. Dona Felicidade respondeu: “Você é a minha rainha do milho”. Com uma voz triste ela questionou: “Mãe, eu poderia ter participado da competição?” A mãe respondeu: “Agora, só no próximo São João”.
E saíram felizes. Por onde passavam, Maria chamava atenção. Ao chegar à escola, foi uma agitação: todos os meninos falando no pé do ouvido com os seus amigos, as meninas espantadas olhavam de lado, sem entender como aquilo acontecera. Dona Felicidade não fechava a boca de tão encantada, e assim a quadrilha começou. Uma fila logo se formou para convidar Maria para dançar. Ela ficou encantada, mas ao mesmo tempo um pouco nervosa, pois nunca viu alguém querendo lhe paquerar, e ali tinha uma fila para ela escolher. E assim aconteceu: a quadrilha começou, chegou a hora da coroação. Um silêncio total, quando a professora anunciou: “Maria, você é a rainha do milho”. A menina não saiu do lugar, de tão surpresa que ficou. A professora foi até ela e a coroou. Olhando em direção à sua mãe, Maria não conteve a emoção: correu e a abraçou. Todos ficaram de pé e também comemoraram com muita animação: forró, xote e até baião. Pense num São João para lá de bom… Marcou para sempre o coração de todos.
Margarete Cavalcanti
Crônicas e poesias
Respostas de 4
A Cultura é a essência de toda Sociedade civilizada… (Fernando Matos – Poeta e Delegado Cultural pela OMDDH Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos)
Gostei muito do seu conto junino… Muita criatividade… Como em tudo que a escritora faz… Parabéns.
Parabéns, Margarete
Dona Felicidade atua sem que percebamos. Bonita a história que você contou.
Abraço
A poetisa e escritora digital Margarete Cavalcanti, sempre fazendo acontecer, textos e crónicas maravilhosa e este sobre as festas juninas está ótimo.
By Carlos Farias