A humanidade é masculina e o homem define a mulher não em si mesma, mas em relação a ele; ela não é considerada como um ser autônomo.
Simone de Beauvoir
Pelo terceiro ano consecutivo a Cultura Nordestina celebra o mês da Mulher – este ano não poderia ser diferente. A memória da trajetória histórica feminina precisa ser reavivada constantemente com a pretensão de, um dia, garantirmos que cada homem e cada mulher saiba de cor a história que, até hoje, traz consequências desastrosas à humanidade.
“Filhos da Pátria, vocês vingarão minha morte” foram as últimas palavras de Olympe de Gouges antes de subir ao cadafalso e entregar sua cabeça à guilhotina, cumprindo o Artigo X da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, célebre texto de sua própria autoria: “Uma mulher tem o direito de subir ao cadafalso. Ela deve, igualmente, ter o direito de subir numa tribuna”. Era o ano de 1793. Paris. Olympe foi taxada de “virago”, “impudente” e “mulher-homem” por abandonar os cuidados com o lar, fazer política e fundar sociedades de mulheres.
Em 1592 há registros da primeira aparição de uma mulher no palco. O século 17 revela, timidamente, mulheres na literatura. A Revolução Industrial descobre sua habilidade manual e elas passam a ser úteis ao capitalismo emergente com sua força de trabalho utilizada em locais insalubres, sem hora para começar e terminar a jornada. Em 1857, dia 8 de março, 129 operárias subnutridas e sub-remuneradas são carbonizadas dentro de uma fábrica em Nova Iorque, numa ação de retaliação dos patrões e da polícia, pela realização de uma greve.
A mulher já foi taxada de feiticeira, personificação do Satã; já foi propriedade de senhores de engenho, pais e maridos, e chega ao século XXI carregando o estigma de uma história que não se esgota – ela continua sendo queimada como foi na “Santa Inquisição”, maltratada psicologicamente, estuprada, espancada e vilipendiada em seus sonhos. Coisificada.
Os piores sentimentos que podem habitar um ser humano ainda são perpetuados pelos covardes, invejosos, intolerantes, e os que enxergam em cada mulher a reencarnação de Eva, sempre pronta a tentá-los e a ameaçar o seu poderio de macho.
Apesar de tudo, existe uma promessa de vida (a humanização) para aquela que traz em sua caverna sagrada o segredo da Vida, assim como para todos os seres humanos que sofrem opressão, negação, discriminação, preconceito e abuso sexual, comportamentos presentes desde a base da construção da sociedade brasileira, quando, sob as asas da casa-grande, cuidado e proteção conviviam com opressão e com o discurso bonachão que os distinguia pela docilidade de sentimentos – leia-se: submissão ou perfil passivo e alienado que garantiu a manutenção do patrimônio dos senhores, e continua garantindo a propriedade privada, na atualidade. A essência do sistema não mudou, mudaram as formas de opressão. Tentativas de mudança vêm ocorrendo, entre avanços e retrocessos frustrantes.
Dia 30 de março estaremos recontando a história da mulher, antes contada, apenas, pelos homens.
– Exposição de vários exemplares da Revista Feminina (editada no início do Século XX)
– 10h Meditação Transcendental e o poder de autocura (palestra) com Adriane Brasileiro
– 12h30min Almoço
– 14h Mulher & Vida (Roda de prosa) com Ivanilde Morais de Gusmão
– 15h30min Monólogo da Vagina com a Trupe da Cultura
– 16h30min Constelação – resgate da alma (palestra) com Ana da Fonte
Colaboração para a manutenção do espaço – R$ 10,00
Endereço: Rua Luiz Guimarães, 555, Poço, Recife
Telefone: 81 3243-3927