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Ana Maria César é o Destaque artístico-literário de agosto

Ana Maria César - Destaque artístico-literário de Agosto/2021

 

PERFIL LITERÁRIO

 

Nasci Anna Maria Ventura de Lyra e César, grafado com letra dupla e o Y etimológico. Mas a grande reforma ortográfica em vigor a partir de 1943, acredito, tenha feito os circunstantes esquecerem esse detalhe. Fui alfabetizada com a escrita simplificada e só muito depois descobri a correta grafia do meu nome. Por essa época já me acostumara, logo depois lancei os primeiros trabalhos literários e assim me tornei Ana Maria César. Hoje percebo que existe uma diferença intrínseca entre os dois nomes. O primeiro, a natureza me concedeu, herança de ancestrais. O segundo, eu mesma construí, mistura de barro, pedra e pétalas orvalhadas em noites tenebrosas e madrugadas mansas.

Cheguei por volta da hora nona – constelação de Carneiro no Zodíaco – entre os rios Beberibe e Capibaribe. Primeiro e único rebento do casal Amaro de Lyra e César e Áurea Ventura de Lyra e César, ele, juiz de Direito e poeta, ela, missivista de estilo elegante e ágeis dedos no teclado da máquina de escrever.

Morei primeiro em Garanhuns, tempo que rememoro nos desbotados retratos, em jardins, sempre jardins, muitos jardins. Do aroma das rosas vivo a sinergia do apito do trem, já agora em Carpina. Os trens foram meu primeiro alumbramento. Meu tempo e meu espaço. As horas se faziam nos seus apitos. Também minha noção de espaço. Carpina ficava onde começa e termina a linha do trem, pensava. Para onde quisesse ir, era sempre aquele o caminho, o único caminho. Rajadas de vento a me assanharem os cabelos, fuligem negra a me mascarar o rosto, e o desejo de decifrar o enigma dos trilhos paralelos e simétricos, de descobrir o que haveria além das curvas da estrada. Para descobrir, / passei a ir com os trens. / Mas de tanto partir e chegar, / um dia tomei um trem sem volta, / sem volta para a infância de Carpina.

Depois veio Caruaru, tempo de uma peça em dois atos. No primeiro, vivi uma cidade provinciana, em torno de um morro encimado por uma igrejinha em homenagem ao Senhor Bom Jesus, onde meu pai, juiz de Direito, reinventava a vida. Considerava sua missão judicante além do prosaico, sonhava com um mundo melhor, e fez sua parte: construiu dois abrigos para crianças abandonas, organizou o Comissariado de Menores, lutou pela lisura nas eleições. E tanto vi e vivi que preciso foi voltar. E voltando escrevi meu primeiro livro.

Dois espaços de conhecimento foram responsáveis pelo meu saber: a Faculdade de Direito do Recife e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica de Pernambuco, onde cursei Letras Neolatinas.

 

ENTREVISTA*

 

  • Cultura Nordestina

Partindo do pressuposto de que cada um de nós tem um papel a desempenhar na sociedade, gostaria que você dissesse quais os papeis desempenhados pela:

  • Ana Maria filha de um Juiz de Direito que sonhava com um mundo melhor

Levar adiante a visão de mundo consciente e solidária que aprendi com ele.

  • Ana Maria acadêmica

Como acadêmica devo me dedicar ao desenvolvimento da cultura literária do meu Estado e da minha região, incentivar novos talentos e manter aceso o amor aos livros.

  • Ana Maria escritora e poeta

Essa Ana Maria cumpre o designo dos deuses. Tem muito a dizer e procura dizê-lo com maestria e firmeza. E quando se for, suas palavras deixarão marcas nas paredes da caverna, seu habitat.

  • Cultura Nordestina

Se você fosse convidada a participar de um fórum mundial sobre o destino do planeta Terra, quais seriam as suas propostas, no que diz respeito ao relacionamento homem X natureza?

  • Ana Maria

A palavra que rege as ordenações do humano, em todos os tempos, é respeito. Mas para alcançar esse patamar é preciso ter consciência de que a terra prescinde do homem, e não o contrário. Se alguém não entender esse paradigma, não merece estar aqui.

  • Cultura Nordestina

Em sua opinião, qual a relevância das artes para o desenvolvimento humano?

  • Ana Maria

Através das artes, o homem é capaz de atingir o absoluto.

  • Cultura Nordestina

Você acha que a cadeia produtiva cultural, no Brasil, é compatível com a demanda da produção intelectual?

  • Ana Maria

Infelizmente, não. Somos um país imenso, de diversidade cultural, grandes feitos históricos, habitado por um povo sensível, mas nem sempre com oportunidade de publicar, distribuir e divulgar seus trabalhos. No entanto, ações como a que realiza a Cultura Nordestina – Letras e Artes nos leva a crer que será possível reverter esse quadro.

  • Cultura Nordestina

No momento atual, quais são as suas expectativas de realização pessoal para os próximos dois anos?

  • Ana Maria

Escrever, escrever, escrever…  e divulgar a nossa literatura nas instituições a que pertenço.

  • Cultura Nordestina

Quais seriam as possibilidades do ser humano para a construção de um novo tempo no pós-pandemia?

  • Ana Maria

Entender que somos uma aldeia global e cada ser humano é responsável pelo todo.

 

SERVIÇO

https://www.culturanordestina.com.br

Programa Destaque artístico-literário – Ano IV

Coordenação geral: Bernadete Bruto | Coordenação especial: Eugênia Menezes, Raldianny Pereira e Taciana Valença

Realização: Ponto de Cultura Nordestina Letras & Artes

Endereço: Rua Luiz Guimarães, 555, Poço da Panela, Recife-PE

Contatos: (81) 30973927 | 981137126 (WhatsApp)

*Elaborada por Salete Rêgo Barros

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