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A outra face da moeda, por Salete Rêgo Barros

Fonte: Isto é (on-line)

Naturalmente, somos seres solidários porque precisamos uns dos outros e da Natureza, para sobreviver. No entanto, para muitos, essa característica funciona, apenas, como via de mão única.

Invariavelmente nos apegamos a determinados conceitos por solidariedade aos antepassados, aos amigos, aos costumes, a nós mesmos. Com isso nos acostumamos a repetir padrões solidários que podem nos paralisar e impedir de enxergar a outra face da moeda.

Aos 28 anos de idade e aos 3 meses de minha terceira e última gestação, deixei de comer carne vermelha por convicção. A decisão causou preocupação nos familiares, que entendiam a falta da proteína como ameaça ao feto em desenvolvimento, como se a proteína animal fosse insubstituível.

Na verdade, comer carne nunca me seduziu. Ao contrário: é repugnante ver um animal esquartejado, exposto nas vitrines com filetes de sangue escorrendo, denunciando o sofrimento, a engorda no pasto que cresceu graças ao desmatamento e à alimentação preparada à base de uma ração que, para ser produzida em grande escala, tira da Natureza recursos que deveriam ser preservados. Causa repulsa saber que a indústria da carne provoca estragos irreparáveis na camada de ozônio que protege o planeta – a nossa casa –, numa constante ameaça à permanência do ser humano na Terra.

Neste aspecto, a lucidez me diz que nem posso e nem devo ser solidária com costumes que escondem algo que vai além da necessidade deste tipo específico de proteína na alimentação humana – a ganância desmedida que caracteriza o sistema capitalista: usar e abusar dos recursos naturais sem enxergar o período de escassez que fatalmente virá.

Imagino como seria diferente o nosso entendimento dos fatos, se a história houvesse sido contada pelos índios, pelos negros, pelas mulheres. Imagino como seria a arte produzida por um animal – um quadro pintado com sangue; o pavor estampado em seus olhos, colados, bem no centro da tela. Imagino um poema assim:

 

Da insensatez nasce o poema rubro

sentindo a mácula proteica

que alimenta o medo.

Nas veias humanas, o filete não escorre:

agora corre em estado de alerta.

No estômago a carne fermenta,

pesa e cai nas tripas, mal digerida, putrefeita.

Ali, o animal se vinga

reduzindo a pó o ser que o engoliu.

 

Serviço: Pronta-entrega na Cultura Nordestina (Rua Luiz Guimarães, 555, Poço da Panela, Recife-PE

Solicite o cardápio através do (81) 3097-3927 / 9-93457572

 

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