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À luz de um sol impuro, por José Luiz Mélo

DIVULGAÇÃO DE ASSOCIADOS LETRART

“À LUZ DE UM SOL IMPURO”, (Poesia), de Frederico Spencer, inaugura o lançamento da FS editora, do próprio autor, que a exemplo do mesmo, esmera-se no apuro, nos detalhes que fazem do livro um encantamento para a vista, enquanto o conteúdo, transcende o que se avista e atravessa a alma.

Como descrever a poesia de Fred? Não é fácil de ler, quando se espera encontrar a forma fluida e líquida, princípio meio e fim. Mas, não é assim. Assemelha-se com um mistério que não faz esforço por ser descoberto, mas sentido, parido com unhas e dentes que sua poesia é assim: Impossível em se ficar indiferente.

A TECELÃ

É como um quadro abstrato, em que as formas se misturam.
Não se exige a explicação do porquê é assim, mas belo exatamente pelo seu enigmatismo, porque é assim.
Então se sucedem os versos do poeta. Trata do amor, como um sentimento imaterial que se não toca com as mãos, mas, com o cérebro. Fala do social, sem aquele pudor de dizer pela metade o que é inteiro, mas não de uma maneira rude, sim, de um modo cordial, como alguém que pede licença à multidão para passar com o seu medo.
Não devo mais comentar os poemas de Fred, neste “À Luz de um Sol Impuro”. Devo deixá-los falar com você, porque seus versos não são analgésicos, são antissépticos, purificam quem os lê.

De suas mãos
de argila, nasce o ser do amanhã. No molde:
podado, retorna para a teia: a aranha e seu bote
de alma morta concede-se ao prazer:
a corrente frouxa, o olho ao longe aterroriza – prefere a teia
e a viúva, suas garras e dentes enquanto lá fora o sol brilha.

ÁGUAS

Nas tuas planícies desemboco
– esses rios que cabem em minhas mãos e ao te encontrar, no amanhecer:
maré cheia
– habitar no teu silêncio. Descanso após esse longo caminho
– na areia fina de tua pele deitar e esperar tua língua espuma, de vento e sal
se despedaçando no silêncio na dobra da onda
teu breve regresso. No horizonte onde os olhos
despencam do mundo descobrindo-me só.
AO PAI E AO FILHO
A Fernando Spencer, meu pai

Até onde formos infinito
tuas digitais em mim, serão sóis tuas lembranças, luas
de um tempo
onde escrevemos nossos nomes com as cores destas páginas subscrevemos, vida.

Até onde fores palavras das conversas que tivemos
ou não
seremos infinito
vítimas deste tempo: esmaecidas impressões.

Até onde teu dedo apontou descaminhos se cruzaram com sua lança nos levaram
para outras terras, nos esquecemos nossos brasões, correram líquidos por entre nossas mãos.

Até quando fores
esta voz ressonando nos cantos na casa, batida do coração madrugarão estrelas
em sua cama, o menino ainda espera tuas mãos.

https://www.culturanordestina.com.br

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