Sou a Vida
Eu sou a vida!
Sou terra, água, fogo e ar.
Lua e sol,
sombra e luz,
grão e duna,
onda e mar,
cor e arco-íris,
estrela e constelação,
partícula e universo,
profana e sagrada,
existência e transcendência,
efêmera e eterna,
morte e renascimento.
Ser em transformação,
buscando a plenitude
do uno e do todo
Cy, a deusa-mãe
Cy, deusa-mãe de toda a criação
na teogonia indígena brasileira,
da vida tinha o poder da nutrição,
dadivosa e, do amor, a mensageira.
Guaracy, o Sol, a mãe dos viventes,
Jacy, a Lua, a mãe dos vegetais,
de suas entranhas brotavam sementes
de homens, plantas e dos animais.
Espíritos benfazejos da floresta
de Guaracy recebem a missão,
a cada dia cumprir sua gesta
em ato de cuidado e proteção.
O Guirapuru, o pássaro protegia,
o Anhangá, do campo, os animais,
Caipora, no porco, em montaria,
dos bichos da mata guarda a paz.
Uiara, guardiã dos peixes e das águas,
toma jeito de boto em sedução,
das amantes índias leva suas mágoas
e deixa saudade em seu coração.
Jacy, a Lua, faz sua parceria
com Urutau, o fantasma noturno,
que põe o invasor em correria,
ao soar firme seu canto soturno.
O Saci-pererê de uma perna manca
e no joelho traz dois ferimentos,
cuida bem das ervas e a dor estanca,
preparando chás, meizinhas, unguentos.
O Curupira tem os pés virados
desorienta quem destrói a mata,
que vaga tonto em caminho errado,
a volta à casa é tarefa ingrata.
A Serpente de Fogo, Mboitatá
persegue quem, no campo, faz queimada,
seu corpo arde e sofre sem parar,
sua pele queima forte ao ser tocada.
Cy, a mãe Natureza generosa,
harmonizava energias vitais,
a deusa feminina amorosa
protetora dos povos ancestrais.
Mãe Natureza
Senhora das florestas
e das terras férteis,
Senhora das ventanias
e dos mistérios do fogo,
Senhora dos verdes vales
e das montanhas,
Senhora dos rios, dos mares
e das águas calmas,
Senhora dos minerais
e dos tesouros adormecidos,
Senhora dos seres moventes,
dos que voam, dos que nadam,
dos que caminham,
Nossa Senhora protetora de todos os viventes,
derrama tuas bênçãos
sobre a terra, nossa morada,
estende teu manto de luz
sobre teus filhos e filhas.
Oh Mãe Natureza,
que tua paz esteja conosco
e com as gerações que hão de vir.
Nós te reverenciamos, Mãe, agora e sempre.
Manoel Dias da Fonsêca Neto
Médico, Especialista em Epidemiologia e Saúde Pública e mestre em Gerenciamento de Sistemas Locais de Saúde pelo Instituto Superiore di Sanitá – Roma-Itália. Membro fundador da Escola de Saúde Pública do Ceará. Foi Secretário da Saúde de Fortaleza e de Beberibe. Publicou Desafios para a Saúde Pública do Ceará, Iracema Nosso Amor, Tempo de Nascer: O Cuidado Humano no Parto e Nascimento, Benditas & Guerreiras, Lendas e Encantos, Baú dos Avós, Fortaleza Cidade Saudável e Fraterna, Madalena e o Sagrado Feminino, Meu Povo Ancestral, Escravidão e Lutas de Libertação e Sendas Poéticas. Membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES-CE, associado ao Movimiento Poetas del Mundo, titular da Academia Quixadaense de Letras (AQL), da Academia Cearense de Médicos Escritores – ACEMES, da Associação Cearense de Saúde Pública – ACESP e da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia – ABMMD.
Uma resposta
Maravilhosas e profundas as poesias! Parabéns! ♥️