A cacimba da democracia
Morávamos em Piedade, numa casa da Rua Osório Borba. Estávamos em 1969 e já haviam dedurado Zé Carlos como ativista. Na verdade, meu marido era um pacifista.
Segundo amigos dos Correios, ele seria o próximo a ser preso. Sem saber o que fazer, recolhi os livros que pudessem ser considerados subversivos e joguei-os numa cacimba.
Havia pouca água, a tampa era de madeira, o mais difícil foi cobrir tudo aquilo com areia.
O sol raiava quando me dei conta que tinha assassinado duplamente aqueles livros, afogados e enterrados.
Julieta Estima Borba
é advogada, viúva, mãe, avó. Nesta primeira publicação vem contar parte de suas recordações, aproveitando o tema perfeito: as tantas fomes no mundo, a fome pela democracia.
Respostas de 6
Parabéns! Lindas recordações.
Que nunca deixemos de ter fome de democracia! Essa é uma memória preciosa para as gerações futuras.
Que essa memória nos ajude a nunca mais precisar passar por isso!
Dona Juju, com sua escrita impecável, nos lembrando pelo que devemos sempre lutar. Viva a democracia!
Que relato impressionate. Viva a democracia sempre!
Boa tarde, Dona Julieta
Se o ¨assassinato¨ dos livros ainda provoca recordações, imagino o pesadelo das mães que não puderam enterrar parte de si. Que nunca mais esse fantasma do Golpe de 1964 volte a nos amedrontar. Continuemos firmes, resistindo às tentativas de cerceamento da nossa liberdade.
Viva a Democracia!